sábado, 6 de novembro de 2010

Mãe-órfã

Photo Credit: Wildthing

As reportagens Mãe-Órfã e O Filho Possível contam várias histórias, ciclos completos, embora curtos do ponto de vista de tempo, devido o trabalho da equipe da UTIN. Todas elas tem começo, meio e fim e algumas acabaram como a nossa. Mas fiquei feliz em conhecer o programa do Hospital de Campinas, que como diz na reportagem: “cuidar quando não é possível curar”, torço pelo dia em que todos os profissionais da saúde se tornem cuidadores do corpo e da alma humanos. A leitura deste texto me fez relembrar e avaliar o pouco tempo que passamos na UTNI com o Guilherme. Dado o desfecho, é impossível dizer que nossa experiência foi boa. Posso afirmar que a equipe tratou o Guilherme com carinho. Fomos instruídos sobre o seu quadro clínico, e sobre a sua fragilidade. O Meu Bem, pôde fotografá-lo. Foi pelas fotos que eu o vi pela primeira vez. Eu pude visitá-lo. Conversar com ele. À noite, quando chegamos para visitá-lo novamente observei que havia muitos pais no corredor. As enfermeiras pediram para que todos aguardassem. Ficamos esperando ali mesmo, ansiosos por podermos conversar com ele como uma famíla. Algum tempo depois a enfermeira dispensou a todos os demais pais, e só nós ficamos no corredor gelado aguardando a chegada da Médica, que falou que o quadro clínico do Guilherme havia piorado muito. Ela pediu que aguardássemos. Ficamos ali, não sei por quanto tempo mais. Por causa do frio a enfermeira nos levou para o quarto, onde ficamos rezando até que fomos chamados novamente. Ficamos aguardando mais uma vez e por nós passou um rapaz todo vestido de preto carregando alguns raios-x, ele me disse baixinho, está tudo bem, só não conte pra elas que eu te contei. Aquele comentário nos fez relaxar. Dali a algum tempo entramos na UTI. Seguir aquele procedimento para lavar as mãos foi uma tortura, pois eu queria era ver o Guilherme o quanto antes. Enquanto lavava as mãos olhava para as enfermeiras a procura de uma pista. Em seus olhares nenhuma pista, nem boa nem ruim. Adentramos ao consultório e a Médica começou a nos explicar os procedimentos que havia realizado, mostrou os raio-x, um a um, em detalhes, quando ela disse: - Eu não queria dizer isto, mas o Guilherme não resistiu. Foi uma dor imensa seguido por um alívio profundo, pois eu não queria que ele sofresse mais. Fomos convidados a entrar,o vimos, como se estivesse dormindo, apenas com uma toquinha e a fraldinha. E com pequenos roxinhos no nariz, no braço e no tórax. A enfermeira insistiu para que nós o pegássemos no colo, mas não quisemos. Deixamos ele descansar.Apesar de estar na enfermaria, eu estava sozinha no quarto, pois pela política do Hospital, mães cujos filhos estão na UTIN não dividem quarto com mães acompanhadas por seus bebês. Então a diretora do Hospital autorizou que o Meu Bem ficasse comigo. Apesar disto, ficar no hospital mais dois dias foi uma tortura. Durante a noite chamei a enfermeira, ela disse: Diga mãezinha! No dia seguinte recebi logo cedo a visita da minha Médica, que contou toda a sua história com a filha adotiva e disse para que eu pensasse no assunto. Disse também que outra paciente dela havia acompanhado o seu bebê na UTIN durante 20 dias e ele então faleceu, Não foi melhor assim? - ela perguntou. Eu respondi: Posso ir pra casa? Mas ela não deixou. Se seguiram uma série de visitas. Apesar dos remédios, eu ouvia os comentários. Minha sogra disse, vamos reunir todas as coisas do bebê para doar. Ainda bem que eu consegui responder dizendo que não. E mais remédios. Até que pude ir embora, infelizmente de braços vazios.

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