segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Incompreensão


Eu senti muita solidão. Sempre tive companhia nos meses que fiquei em casa por causa da licença maternidade. Como já contei, minhas irmãs se revesavam para me fazer companhia e também tinha a minha querida vizinha Malu. Mas eu me sentia sozinha porque sempre tive a impressão de que ninguém compreendia a minha dor. Não que as pessoas não tentem compreender, elas apenas não conseguem. Com freqüência fazem comentários equivocados, sempre com a melhor das intenções. Alguns, na tentativa de consolar, utilizam frases prontas que são inúteis, como por exemplo, - Você tem que se apegar a Deus. - Foi melhor assim, senão ele ia ficar “dando trabalho”, - Podia ter sido pior, você também podia ter morrido. – Vocês são novos, logo terão outros filhos, - Isso é mais comum do que você imagina, - Tudo passa, isso também vai passar, - Só o tempo pode ajudar, etc... Ouvi perguntas indiscretas de pessoas curiosas, mais interessadas no fato do que em nós. Às vezes sentia olhares reprovadores, como se tudo que eu sentisse fosse desnecessário ou exagerado. Somente o Meu Bem e o meu sogro expressaram seus sentimentos em relação a morte do Guilherme, e isto me ajudou muito. Minha mãe apelidou o Guilherme de Cometinha, porque ele passou muito rápido para iluminar a todos com a sua presença. Os demais familiares preferiram não demonstrar seus sentimentos, preocupando-se mais conosco. Conversar sobre tudo o que aconteceu era muito difícil, se o assunto viesse à tona me entristecia e se não viesse parecia descaso das pessoas. Em várias ocasiões eu fui amparada por comentários felizes, por pessoas que me ligaram e assim me fizeram companhia como a tia Joana e o meu amigo Mario. O meu chefe Moraes, gentilmente avisou a todos os meus colegas de trabalho daqui e de Santa Catarina sobre o que ocorreu. Minha irmã me disse, muito amorosa: - Quando você quiser conversar, eu estou a sua disposição. Também foram várias vezes que recebi muito carinho. Não conheço regras de etiqueta para lidar com pessoas fragilizadas diante da perda de entes queridos, mas hoje quando me deparo com a necessidade de conversar com pessoas que passaram por uma situação de perda eu procuro:
- Respeitar a sua dor;
- Me colocar em seu lugar;
- Não digo que com o tempo a dor vai passar, pois ela vai é se transformar;
- Não faço perguntas indiscretas e desnecessárias sobre em que condições ocorreu a morte;
- Sempre que for verdadeiro, eu demonstro meus sentimentos, deixando claro que também estou sentido a ausência desta pessoa, demonstrando solidariedade;
- Conto aos conhecidos em comum sobre a ocorrência da morte, para evitar que os familiares mais próximos tenham que fazê-lo em outro momento;
- Telefono periodicamente para conversar sobre como a pessoa está, e me coloco a disposição para conversar com ela sobre tudo o que ocorreu, se ela quiser;
- Visitar se houver intimidade;
- Durante as conversas, incentivar que a pessoa inicie ou dê continuidade a antigos projetos;
- Se possível, convidar a pessoa para participar de atividades úteis;
- Se possível, poupar a pessoa de situações constrangedoras;
- Se eu não sei o que falar, digo apenas: - Sinto muito que vocês tenham que passar por isto e me coloco a disposição para ajudá-los no que for possível PONTO FINAL; e,
- Ter muita paciência.

Existem momentos para os quais ainda não inventaram palavras, e na minha opinião, a melhor maneira de preencher esta lacuna é com amor e prece. Mas mesmo com todo o cuidado, no tratamento com pessoas passando por processo de luto, algumas gafes podem ocorrer, mesmo porque as pessoas são diferentes e sentem de forma diferente. E perceber isto me deu motivo para compreender todos aqueles que de alguma forma foram insensíveis em relação a minha dor.

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