sábado, 15 de janeiro de 2011

Lugares de mim






Quando sentei para escrever este texto não tinha um bom motivo. Estava triste nem sei exatamente por qual motivo, são tantas coisas que não saem como planejamos. Ainda bem que eu avisei sobre os meus altos e baixos, é, eles existem, persistem até hoje, mas fico feliz pelos "baixos" não serem mais tão frequentes, nem tão "baixos" como antes... Aí lembrei de algo bom para contar. Fui assistir ao espetáculo Lugares de Mim, onde a bailarina é a minha professora de Dança Contemporânea, Juliana Adur, integrante do grupo Descompanhia de Dança. Neste espetáculo cada um dos bailarinos representa diferentes papéis, formam diferentes pares, transmitem os mais variados estados de espírito, que em uma hora de espetáculo você sente ansiedade, desejo, alegria, tristeza, paz, vontade de cantar, vontade de dançar. Mesmo em casa continuei a percorrer os lugares propostos pelos artistas e acabei por refletir, que o tempo todo também estamos transitando por lugares (estados de espírito) que não necessariamente representam nossa essência, mas por onde passamos algum tempo, aprendemos, descansamos, recomeçamos, e assim que possível, ou quando necessário, nos dirigimos para outro lugar. Assim vamos nos construindo como pessoas. Nada é estático, é tudo mutável, passageiro, efêmero, mas sempre autêntico. Há pouco estava num lugar de mim onde o cansaço e o desânimo estavam tomando conta, mas ao lembrar do espetáculo saltei imediatamente para outro lugar de mim, onde a beleza, a realização, a contemplação, a arte predominam e me preenchem com ânimo. Percebi que salto de um lugar para outro, retorno a alguns com freqüência. Lembrei de alguns lugares de mim que estavam esquecidos. Sou muito grata por ter assistido a este espetáculo, por ter este despertamento, e por ter me lembrado dele para poder terminar este texto muito melhor do que começou. Agora que terminei, deixe-me ver, para qual dos lugares de mim eu vou? E você, para qual deles vai?

***

“Lugar do amor

Em todo indivíduo existe
um recanto imaculado,
virgem, inexplorado,
silencioso, profundo...

Em toda criatura permanece
um mundo,
santo e ignorado,
nunca dantes penetrado,
aguardando,
enriquecido de ternura...

Há, no abismo de toda alma,
um rochedo,
um lugar, uma ilha,
um paraíso,
recanto de maravilha
a ser descoberto...

Em todo coração se demora
um espaço aberto para a aurora,
um campo imenso
a ser trabalhado,
terra de Deus,
lugar de sonho,
reduto para o futuro...

Em toda vida
há lugar para vidas,
como em toda alegria
paira uma suave melancolia
prenunciadora de aflição.

Há, porém, um lugar em mim,
na ilha dos meus sentimentos não desvelados,
um abismo de espera,
um oceano de alegria,
um cosmo de fantasia,
para brindar-Te,
meu Senhor!

Vem, meu amado
Rei e Senhor,
dominar a minha ansiedade,
conduzir-me pela estrada
da redenção.

E toma desse estranho e solitário país,
Reinando nele e o iluminando
com as tuas claridades celestes,
para que, feliz, eu avance,
até o desfalecer das forças,
no Teu serviço libertador.

Vem, meu Rei,
ao meu recanto
e faze de minha vida
um hino de serviço.
E por Ti uma perene
canção de amor.”

Poesia extraída do livro Pássaros Livres, ditado pelo espírito Rabindranath Tagore, psicografado por Divaldo Pereira Franco.

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