Quando sentei para
escrever este texto não tinha um bom motivo. Estava triste nem sei exatamente
por qual motivo, são tantas coisas que não saem como planejamos. Ainda bem que
eu avisei sobre os meus altos e baixos, é, eles existem, persistem até hoje,
mas fico feliz pelos "baixos" não serem mais tão frequentes, nem tão
"baixos" como antes... Aí lembrei de algo bom para contar. Fui
assistir ao espetáculo Lugares de Mim, onde a bailarina é a minha professora de
Dança Contemporânea, Juliana Adur, integrante do grupo Descompanhia de Dança. Neste espetáculo cada um dos bailarinos
representa diferentes papéis, formam diferentes pares, transmitem os mais
variados estados de espírito, que em uma hora de espetáculo você sente
ansiedade, desejo, alegria, tristeza, paz, vontade de cantar, vontade de dançar.
Mesmo em casa continuei a percorrer os lugares propostos pelos
artistas e acabei por refletir, que o tempo todo também estamos transitando por lugares (estados de espírito) que não necessariamente representam
nossa essência, mas por onde passamos algum tempo, aprendemos, descansamos,
recomeçamos, e assim que possível, ou quando necessário, nos dirigimos para
outro lugar. Assim vamos nos construindo como pessoas. Nada é
estático, é tudo mutável, passageiro, efêmero, mas sempre autêntico. Há pouco
estava num lugar de mim onde o cansaço e o desânimo estavam tomando conta, mas
ao lembrar do espetáculo saltei imediatamente para outro lugar de mim, onde a
beleza, a realização, a contemplação, a arte predominam e me preenchem com
ânimo. Percebi que salto de um lugar para outro, retorno a alguns com
freqüência. Lembrei de alguns lugares de mim que estavam esquecidos. Sou muito
grata por ter assistido a este espetáculo, por ter este despertamento, e por
ter me lembrado dele para poder terminar este texto muito melhor do que
começou. Agora que terminei, deixe-me ver, para qual dos lugares de mim eu vou?
E você, para qual deles vai?
***
“Lugar do amorEm todo indivíduo existeum recanto imaculado,virgem, inexplorado,silencioso, profundo...Em toda criatura permaneceum mundo,santo e ignorado,nunca dantes penetrado,aguardando,enriquecido de ternura...Há, no abismo de toda alma,um rochedo,um lugar, uma ilha,um paraíso,recanto de maravilhaa ser descoberto...Em todo coração se demoraum espaço aberto para a aurora,um campo imensoa ser trabalhado,terra de Deus,lugar de sonho,reduto para o futuro...Em toda vidahá lugar para vidas,como em toda alegriapaira uma suave melancoliaprenunciadora de aflição.Há, porém, um lugar em mim,na ilha dos meus sentimentos não desvelados,um abismo de espera,um oceano de alegria,um cosmo de fantasia,para brindar-Te,meu Senhor!Vem, meu amadoRei e Senhor,dominar a minha ansiedade,conduzir-me pela estradada redenção.E toma desse estranho e solitário país,Reinando nele e o iluminandocom as tuas claridades celestes,para que, feliz, eu avance,até o desfalecer das forças,no Teu serviço libertador.Vem, meu Rei,ao meu recantoe faze de minha vidaum hino de serviço.E por Ti uma perenecanção de amor.”Poesia extraída do livro Pássaros Livres, ditado pelo espírito Rabindranath Tagore, psicografado por Divaldo Pereira Franco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário