domingo, 26 de setembro de 2010

Por quê?


Foi uma pergunta constante. Para respondê-la, eu revia novamente todo o filme, vasculhando cada detalhe a procura de um motivo. Na natureza há sempre uma razão para tudo o que acontece, mesmo que nós ainda não possamos identificar ou compreender.
Conheci a história do Arthur, o menor bebê do Brasil - e o quinto do mundo - , nasceu em 4 de agosto de 2006, na 25ª semana de gestação, pesando apenas 385g. Passou quatro meses na UTIN e foi para casa com 2,1Kg. Mas durante as primeiras semanas chegou a pesar 282g. "(...) A história do Arthur é uma vitória. Ele poderia ter desenvolvido uma infinidade de problemas: insuficiência cardíaca, respiratória, raquitismo, hérnia, doença metabólica, disfunção auditiva, mas não teve, disse o médico". Neste ano Arthur já comemorou o seu quarto aniversário.
Erin e sua irmã Sian nasceram na 24ª semana de gestação. Erin agarrou um dos dedos da sua mãe dando-lhe um pequeno aperto. Aos dois meses, Sian, não resititiu e se foi. Erin, que nasceu com 373g, passou onze meses no Hospital onde passou por alguns procedimentos cirúrgicos.
Cada um tem a sua história para viver, o Guilherme tinha pouco mais de um kg quando nasceu, mas não sobreviveu, por quê? Porque a nossa história era esta... E por quê? Atribuir a ocorrência simplesmente à dados estatísticos, ao acaso ou ao azar, não ajuda muito a compreender a necessidade de uma experiência como esta. Atribuir à vontade de Deus, ajuda menos ainda, pois, por que haveria Deus de desejar uma situação como esta e por que Ele haveria de me escolher, sendo que outras milhares de mulheres dão a luz diariamente. Seria muita injustiça, e por mais que eu até merecesse passar por um  sofrimento destes, porque Deus ia condenar um bebê por causa de outras pessoas. Mas por quê, então? Em meio a estes questionamentos, cheguei a um ponto em que via dois caminhos a seguir, romper com Deus e com a religião, considerando que não foram capazes de me proteger e permitiram que nós sofrêssemos tanto, e me entregar a revolta, ou procurar na religião as respostas para estes por quês, refletir sobre elas, me aprofundar nos questionamentos, estudar e compreender. Eu escolhi a segunda opção.
A religião, seja ela qual for, neste momento tem papel fundamental na aceitação do fato e na resposta a estes porquês. E os argumentos vão preenchendo o vazio de cada ser, que transita por esta experiência. No meu caso, a crença na vida após a morte, na reencarnação e na justiça divina foram fundamentais. É consolador saber que o Guilherme permanece vivo. Compreender que a morte é um fenômeno natural, que faz parte de nossa existência, e que todos passaremos por este portal, uns, depois os outros. O Guilherme só foi muito antes do que eu poderia imaginar. Como já mencionei, nada acontece por acaso, todos os acontecimentos em nossa vida são orientados por um planejamento prévio, que considera as experiências necessárias ao nosso aprimoramento. As situações em que nos envolvemos são consequências de atos executados no passado, quer sejam na existência presente quer seja em vidas passadas, mas são sempre provocadas por nós mesmos, às vezes, em momentos de engano. Segundo a Doutrina Espírita, Deus na sua infinita bondade nunca permitiria que um filho seu sofresse, sem que isto fosse necessário, sem que um aprendizado. Se nós, em nossa inferioridade, procuramos evitar o sofrimento daqueles que amamos, imaginemos com que imenso amor Deus nos protege e nos impulsiona para as nossas realizações.

domingo, 19 de setembro de 2010

Alta Pressão

Photo Credit: Dioptria

Seria cômico se não fosse trágico: meu parto prematuro foi causado por Hipertensão, e eu me senti altamente pressionada por muito tempo. Tinha a impressão de que as pessoas a minha volta desejam que eu me sentisse feliz, que eu esquecesse tudo o que aconteceu, que eu seguisse em frente, isto sim foi alta pressão. Eu queria que as pessoas compreendessem que eu precisei de muito tempo para entender tudo o que aconteceu e para lidar com o sofrimento e as frustrações decorrentes, mas que eu seria capaz de recomeçar quantas vezes forem necessárias. Mas para isto, eu precisava de tempo. Neste período, tomar qualquer decisão representava uma tarefa árdua. Até a mais banal das questões era difícil de resolver. Parece que todos esperavam o meu posicionamento. Voltar a trabalhar, fazer compras no supermercado, dirigir, tudo parecia tão difícil. Esta experiência despertou em mim a indiferença, a indecisão e a insegurança. Em várias ocasiões me isolei para me proteger dos comentários e dos possíveis julgamentos. Quando perguntavam, - Tudo bem?, eu sempre respondi que estava tudo bem, mesmo que não estivesse. Mas foi só com o passar do tempo, que eu consegui compreender que muitas vezes, eu mesma me cobrava esta postura ideal. Eu mesma queria que estivesse tudo bem, quando não estava. Eu mesma me julgava constantemente. E todo este movimento, era uma saudade de quem queria voltar a ser, e não conseguia. Eu mesma queria que tudo voltasse ao normal, mas isto já não era possível. Então comecei  a construir uma nova realidade, um novo "normal", e a aceitar as minhas limitações, as minhas dúvidas e as minhas imperfeições. Passei a respeitar meus limites, mas nunca desistir. Também passei a dar menor importância ao que os outros dizem, ou ao que eu acho que eles pensam sobre mim. E me tornei mais leve e mais livre, apesar de ainda ter muitas questões para enfrentar.

sábado, 18 de setembro de 2010

Hipertensão, Pré-Eclâmpsia e Eclâmpsia

Levou cerca de um mês para que a minha gestação tranquila, se transformasse em um parto emergencial. Então, eu não tive muito tempo para me preparar e enfrentar a hipertensão e as suas complicações. Neste período, utilizei a medicação recomendada, cuidei da dieta, repousei, mas não foi o suficiente para dar ao Guilherme todas as condições necessárias para que ele continuasse a se desenvolver normalmente. Eu só fui conhecer melhor esta doença, depois da sua partida. Como continuo a conviver com esta doença, procuro seguir as recomendações médicas e me informar, pois eu sou a maior responsável pelo meu bem-estar.

De acordo com Melania Amorin, em seu artigo publicado no site do Projeto Artemis,
“(...) a hipertensão complica cerca de 10% de todas as gestações, e pode apresentar-se como pré-eclâmpsia (ou, nos casos mais graves, eclâmpsia), hipertensão crônica, hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superposta e hipertensão gestacional.” (...) O ideal seria, realmente, prevenir, evitar a pré-eclâmpsia. Sabe-se que algumas mulheres têm maior risco: as que engravidam pela primeira vez, as hipertensas crônicas, as obesas e aquelas com história familiar de pré-eclâmpsia ou eclâmpsia. Quem já teve pré-eclâmpsia ou eclâmpsia em gestação anterior também tem risco aumentado de desenvolver novamente a doença nas gestações seguintes (...). Infelizmente a prevenção ideal ainda não foi encontrada. Alguns estudos apontam que a suplementação de cálcio em populações com baixa ingestão pode prevenir a ocorrência de pré-eclâmpsia. Em mulheres com risco elevado, parece haver efeito benéfico o uso de aspirina em baixas doses, e recentemente tem sido proposta a suplementação das vitaminas C e E (estudos clínicos estão em andamento).  Recomendações básicas são manter uma dieta equilibrada, tentar enquadrar-se dentro dos limites normais de peso antes de engravidar e não ganhar peso excessivamente durante a gestação (...)”
De acordo com Sílvia Pinella em entrevista concedida a Dráuzio Varella,
“(...) pressão alta é doença traiçoeira. Quando os sintomas aparecem, a doença está instalada há muito tempo e já comprometeu o funcionamento de vários órgãos. Para se ter uma idéia, 20% da população brasileira e metade das pessoas acima dos 65 anos sofrem de hipertensão arterial. Embora menos prevalente do que nos adultos, a doença também pode manifestar-se na infância e medir a pressão pelo menos uma vez por ano é geralmente a única maneira de estabelecer um diagnóstico precoce. Considera-se que uma pessoa é hipertensa se os níveis da pressão arterial forem iguais ou superiores a 14/9. Nos casos de hipertensão leve (14,5/9, por exemplo), mudanças no estilo de vida podem contornar o problema. Emagrecer, não abusar do álcool e do sal de cozinha, fazer esportes, caminhar, evitar situações estressantes, não fumar são dicas importantes para quem precisa controlar a pressão. Muitos pacientes, porém, apesar da boa vontade, nem sempre conseguem atingir o objetivo proposto e precisam tomar remédios todos os dias até o fim da vida para controlar a pressão arterial. (...)”
O Sódio, utilizado como conservante, está presente em praticamente todos os alimentos processados, tais como os embutidos, as pipocas de microondas, as bolachas recheadas e os chocolates, por exemplo. Como sugerido pela nutricionista Taís Carneiro, é importante que se observe os rótulos dos produtos para verificar a quantidade de Sódio presente, e assim selecionar os produtos mais adequados para o consumo.

Veja também o artigo Eclâmpsia e pré-eclâmpsia escrito por Marco Aurélio Galleta

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Taís Carneiro - Nutricionista - Home Care - (41) 8809-9764

domingo, 12 de setembro de 2010

Jolie

Photo Credit: Meu Bem

Sempre tivemos o sonho de ter um cachorro. Eu queria adotar, mas tinha medo de que o cachorro crescesse muito, o Meu Bem preferia comprar um Yorkshire Terrier. Dois meses depois que o Guilherme morreu, eu estava caminhando e passei pela frente de um canil especializado em Yorkshire Terrier, e os vi pulando de um lado para o outro. Entrei e fiz algumas perguntas: tamanho depois de adulto, sexo, qual era a melhor opção para um apartamento, e o preço. Fiquei encantada com a meiguice deles. Fui pra casa animada com a idéia de ter um filhote. A noite, quando contei para o Meu Bem que tinha visto os filhotes, ele perguntou: - Você está falando sério? No dia seguinte fomos buscar um deles. Meu Bem escolheu a Jolie, foi amor a primeira vista. Na hora da compra, só me entristeceu um pouco, as mantinhas que a moça queria vender, pois eram muito parecidas com mantas para bebês. Mesmo assim, negócio fechado. Só então ele me contou que o Yorkshire Terrier não solta pelo e por isto não prejudicaria a sua renite alérgica. E eu pensei, se você tivesse me dito isto antes eu já teria concordado em comprar um cachorrinho, há muito tempo. Nas primeiras noites a Jolie chorava, então eu levantava para ver se ela estava com frio, e assim que eu chegava ela parava de chorar. Só que me doía muito isto, eu não queria acordar no meio da noite para atender um cachorro, eu queria acordar para cuidar do Guilherme. Eu sofri alguns dias com esta nova rotina e só não devolvi a Jolie porque o Meu Bem a abraçou e pediu que eu não a tirasse dele. E aí a Jolie foi ficando, ficando. Fazendo sujeira e bagunça pela casa toda. Fazendo o Meu Bem feliz. Me seguindo por onde eu fosse. Fazendo festa por qualquer coisinha que a gente jogue pra ela. Ela ficou doente, e eu pensei que ela poderia morrer. Pensei como seria a vida sem a Jolie e não gostei da idéia. Ela tomou tanto remédio e até fez exame de sangue, depois melhorou. Durante o dia, ela fica na creche eu não tenho coragem de deixá-la sozinha em casa, enquanto trabalhamos. Muitas pessoas criticam, mas foi a melhor opção que encontramos. Pois eu ainda não consegui que a Jolie e a Lulu (cachorra da minha irmã) façam amizade pra que elas possam passar o dia juntas. Nas noites em que tive insônia ela vinha deitar comigo no sofá, ou ficava no meu colo enquanto estava no computador. Ah, sempre que posso levo a Jolie comigo, ela já andou de ônibus, e de táxi. Quando eu fico triste, eu pego a Jolie e a abraço bem forte. Eu só não gosto quando dizem que ela é minha filha ou meu bebê, mas isto é tão comum que eu quase nem ligo mais.

sábado, 11 de setembro de 2010

Meu Bem

Photo Credit: K Man
 
Neste período ele se dividiu entre mim e o trabalho. Um terço pra mim e dois para o trabalho.  E utilizou os compromissos diários para "esquecer" tudo o que aconteceu. Deu início a um antigo projeto: se tornar professor! O trabalho teve um papel muito importante na sua recuperação. Eu queria ter a sua companhia por mais tempo mas não era possível, entretanto, sempre tive seu apoio e incentivo. Enquanto muitas mulheres passam por esta experiência sem ter um companheiro ao lado. Meu Bem raramente extravasava seus sentimentos, mas eu sempre soube o quanto ele sofria. Eu, ao contrário, raramente contive meu sofrimento e ele teve muita dificuldade para compreender meus altos e baixos e todo aquele turbilhão de sensações em que estive imersa naquele período. Se eu pudesse escolher, gostaria de ter aproveitado a “licença maternidade” (os quatro meses mais longos da minha vida) para viajar, conhecer novos lugares. Estar em novos locais, interrompe um pouco os ciclos de lembranças. Lógico que não faz esquecer, mas pelo menos não desperta lembranças... Viajei através da tv, comi mais do que devia. Não li muito neste período pois me faltava a concentração, lia duas linhas e precisava reler novamente. Também fiz um curso de Pintura Decorativa em Madeira, compramos a Jolie. Voltei a caminhar. O Meu Bem já tinha o hábito de pedalar e então comprou uma bicicleta para mim. Comecei a participar das viagens e passeios com o Grupo de amigos do Meu Bem, e me diverti muito. Era uma oportunidade para passar mais tempo com ele. Pedalando fomos para Tubarão, Morretes e Guaraqueçaba. Também fomos almoçar em hotéis fazenda da região, com o objetivo de avaliar o trajeto e propor novos roteiros para o Grupo, que aliás, é formado por pessoas muito especiais. Até agora o meu recorde é de 54km, mas eu pretendo melhorá-lo, e pra isso acontecer comecei a fazer aulas de Spinning. Aqui está um sonho que quero plantar neste Canteiro: Participar de um passeio no Chile que dura cerca de nove dias, durante o Carnaval. Neste passeio os ciclistas tem que percorrer distâncias de pelo menos 70 km por dia, então o jeito é suar a camisa, literalmente. Até lá, estou me dedicando a fortalecer a nossa intimidade e convivência e também procurando novas formas de diversão.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Instabilidade

Photo Credit: Merlin1075

Quando escrevi a linha do tempo, onde relacionei os principais fatos da minha vida, percebi que não seria possível mostrar com fidelidade como me senti no período após a partida do Guilherme através dela. Todos estes sentimentos que relatei (culpa, tristeza, incompreensão, dor, fracasso) se alternaram inúmeras vezes com momentos de esperança, paz, alegria e fé no futuro. O que também variou muito foi a intensidade destes sentimentos que se alternavam, constantemente. Eu sempre desejei me sentir feliz, apesar do desfecho inesperado da nossa história com o Guilherme. Mas às vezes os sentimentos de tristeza se intensificavam por causa do dia da semana, ao ouvir uma palavra mal colocada, por ver algo que me trouxesse recordações. E esta instabilidade me deixava ainda mais triste. Se pra mim, esta instabilidade era frustante, para o Meu Bem compreender, era ainda mais difícil. Infelizmente, bastava muito pouco para desencadear as minhas aflições. Como eu sempre tive consciência de que este estado de espírito era pouco produtivo, lutei constantemente contra estes sentimentos. Eu reconhecia os vários motivos pelos quais eu podia me considerar feliz. Eu ainda tinha uma família, um trabalho, meus amigos, minha fé, minha vida. Eu tinha a oportunidade de recomeçar. Eu tinha inclusive, tido a oportunidade de ver o Gui com vida, dizer-lhe o quanto o amava, muitas mulheres não tem nem esta chance. Mesmo ciente de todas estas possibilidades, inúmeras vezes alternei entre a melancolia, a insegurança, a aflição, a inveja e a dor. E ia descrevendo uma trajetória senoidal de sentimentos e emoções. À medida que o tempo foi passando, a frequência com que eu alternava entre estados de felicidade e tristeza foi diminuindo. Além disso, a intensidade dos sentimentos também foi se modificando, e eu passei a ocupar um lugar onde encontrei paz, onde eu sentia saudade e vontade de que tudo tivesse acontecido de forma diferente, sem cair em desespero e revolta. Não fiz nada especial para atingir este estágio, apenas não desisti de me recomeçar.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mais uma analogia

Photo Credit: SEPpics

Todo começo de ano eu vejo a divulgação do resultado do vestibular e em seguida inúmeras campanhas publicitárias de cursinhos, sobre seus alunos exemplares que conquistaram o primeiro lugar em Universidades renomadas e sobre o número de aprovados. Estas propagandas se repetem dia e noite, sem cessar, sem a menor compaixão para com aqueles que mesmo estudando muito não conseguiram conquistar uma vaga na Universidade. Eu sempre imaginei que estes excluídos deveriam sofrer muito neste período do ano. Quando eu comecei a sair de casa, eu me senti exatamente assim. Ao passar por lojas de artigos para bebês lembrava dos momentos de felicidade e em seguida voltava a minha realidade. Ao ouvir chorinhos, lembrava do único chorinho que eu queria ouvir de novo. Ver mães e seus filhos me deixava triste. Também sofri ao ver mulheres grávidas. Ao vê-las sentia que eu havia falhado na minha tarefa de dar a vida a um bebê. Em um momento eu percebi que ninguém ia parar de ter filhos só porque eu estava sofrendo, ninguém nem sabia disso. Uma das saídas que para aliviar este sofrimento foi desejar mentalmente a cada grávida que passou por mim, muita saúde, para ela e para o seu bebê, como sugeriu o Meu Bem. E renovava a crença na imortalidade da alma, o que me despertava o sentimento de justiça e a certeza da oportunidade de reencontro (1). Lembrava também que cada um tem a sua história para viver, com seus sucessos e fracassos. Hoje, dois anos depois do nascimento do Guilherme, posso afirmar que com a repetição dos eventos, o encontro com mães, bebês, grávidas e afins, foram se tornando mais naturais e a tristeza foi se diluindo, mas, de vez em quando, ainda sinto uma melancolia, mas que não se compara em intensidade a dor dos primeiros tempos.

NOTAS
 (1)    Oportunidades de reencontro

- Após o nosso desencarne:

"(...) Os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Constituem o mundo dos Espíritos, que preexiste e sobrevive a tudo. Os Espíritos preservam sua individualidade, antes, durante e depois de cada encarnação. (...)  Além do mundo corporal, habitação dos Espíritos encarnados, que são os homens, existe o mundo espiritual, habitação dos Espíritos desencarnados. (...) Os Espíritos reencarnam tantas vezes quantas forem necessárias ao seu próprio aprimoramento. (...)"

Trecho extraído do texto O que é Espiritismo.

(...) Vivemos inúmeras existências na Terra, aprendendo e depurando o espírito nas vidas sucessivas, no caminho do aperfeiçoamento moral. Depois da morte, reencontraremos os entes queridos. Quanto mais nos aprimoramos internamente, mais felizes seremos, imortalizando e ampliando o amor que nutrimos uns pelos outros, na família terrena em perene crescimento."
Trecho extraído do texto Nossa família da Terra acaba depois da morte?, escrito por Jávier Godinho.

- Durante o sono

401 Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
– Não, o Espírito nunca fica inativo. Durante o sono, os laços que o prendem ao corpo se relaxam e, como o corpo não precisa do Espírito, ele percorre o espaço e entra em relação mais direta com outros Espíritos.

402 Como avaliar a liberdade do Espírito durante o sono?
– Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, o Espírito tem mais condições de exercer seus dons, faculdades do que em vigília; tem a lembrança do passado e algumas vezes a previsão do futuro; adquire mais poder e pode entrar em comunicação com outros Espíritos, neste mundo ou em outro. (...) O sono liberta, em parte, a alma do corpo. Quando dormimos, estamos momentaneamente no estado em que o homem se encontra após a morte. (...) O sono é a porta que Deus lhes abriu para entrarem em contato com seus amigos do céu; é o recreio após o trabalho, enquanto esperam a grande libertação, a libertação final que deve devolvê-los a seu verdadeiro meio. (...)

Livro dos Espíritos, questões n° 401 a 402, Parte II, Cap. VIII – Da emancipação da alma. O sono e os sonhos.

- Através de comunicações mediúnicas

O médium é aquele que sente num grau qualquer, a influência dos Espíritos. Existem diferentes tipos de médiuns sendo que aqueles que escrevem sob a influência dos Espíritos, são chamados Psicógrafos – assim como Chico Xavier. Através da mediunidade é possível a comunicação entre encarnados e desencarnados, a fim de consolar, repassar orientações, encorajar, auxiliar encarnados e desencarnados. Este intercâmbio mediúnico deve ser realizado no Centro Espírita, pois é o local onde há amparo da espiritualidade superior.

Texto adaptado de Intercâmbio Mediúnico.

"Mensagens psicografadas diminuem a dor por mães e filhos desencarnados

(...) Quando mãe ou filho se vêem na inimaginável ausência física imposta pelo desencarne, ou pela morte, angústia e saudade são muitas vezes causas de uma profunda depressão. Muitas pessoas enchem as casas espíritas à procura de um consolo, através de qualquer tipo de comunicação com quem desencarnou. “É grande a quantidade de mães que procuram seus filhos e de filhos que procuram suas mães durante as reuniões em que psicografamos”, conta o médium João Braga. (...)

(...) Muitas mães e filhos já passaram por lá e conseguiram alguma mensagem do desencarnado. Mas existem também aqueles que passam anos freqüentando o local e não conseguem nenhum tipo de contato. Isso é explicado por uma frase célebre do maior médium brasileiro, Chico Xavier: “O telefone só funciona de lá para cá”. Ou seja, quem diz a hora certa de se comunicar são os desencarnados. (...)

“Existe toda uma preparação para que a comunicação aconteça. Primeiro, há a vontade e a capacidade do espírito desencarnado de se comunicar. Depois o médium tem que ter sintonia vibratória com o espírito. Aí é feito um trabalho pelo plano espiritual para que o parente ou amigo encarnado seja levado até a casa espírita para que receba a mensagem”, explica.

A pessoa é “levada” para lá depois de uma “conspiração” dos espíritos esclarecidos que trabalham junto com os médiuns da casa espírita ou dos espíritos que acompanham o desencarnado que quer se comunicar. Isso pode acontecer como aviso através de um sonho, de amigos que, durante uma conversa com amigos que tocam no assunto, de várias formas. (...)

Conteúdo das mensagens

Geralmente quem desencarna tem a preocupação de tranqüilizar quem fica neste plano, acabando com o sofrimento dos entes queridos. “Já conseguimos mensagens de muitos filhos querendo acabar com o sofrimento de suas mães. A maioria delas não se conforma com a perda, sem saber que, na verdade, o filho está bem amparado espiritualmente, apenas sofrendo com o sofrimento que ela emana”, explica João.

Existem aqueles freqüentadores do “Enxuga lágrimas” que vão muitas vezes e acabam criando vínculo com o Lar da Caridade. Muitos deles conseguem receber mais de uma mensagem. A primeira delas, geralmente, tem esse teor de passar tranqüilidade aos que ficaram.

A partir da segunda mensagem, o espírito já conta outras coisas da vida espiritual. “É como se ele tivesse feito uma viagem e mandasse um postal para a família contando como é o lugar, o que tem feito. Contam sobre lugares que visitaram, atividades que têm no plano espiritual”, ressalta.

Chamamento para pensamentos de amor

O mais importante em receber uma mensagem psicografada ou manter qualquer tipo de contato com entes queridos desencarnados, é saber que quando morremos não acabamos simplesmente. Não viramos pó, não somos sepultados com o corpo. O espírito vive em outros planos. E, na maioria das vezes, vive melhor sem o corpo material, dependendo apenas do adiantamento moral de cada um.

O que filhos, mães ou outros entes queridos querem dos que permanecem neste plano é que continuem suas missões sabendo que eles nunca esquecerão de nós encarnados e, do plano espiritual onde habitam, continuam auxiliando e amando com mais força. Afinal, laços de família não se desfazem com a morte."

Trecho extraído do texto Mensagens psicografadas diminuem a dor por mães e filhos desencarnados.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Incompreensão


Eu senti muita solidão. Sempre tive companhia nos meses que fiquei em casa por causa da licença maternidade. Como já contei, minhas irmãs se revesavam para me fazer companhia e também tinha a minha querida vizinha Malu. Mas eu me sentia sozinha porque sempre tive a impressão de que ninguém compreendia a minha dor. Não que as pessoas não tentem compreender, elas apenas não conseguem. Com freqüência fazem comentários equivocados, sempre com a melhor das intenções. Alguns, na tentativa de consolar, utilizam frases prontas que são inúteis, como por exemplo, - Você tem que se apegar a Deus. - Foi melhor assim, senão ele ia ficar “dando trabalho”, - Podia ter sido pior, você também podia ter morrido. – Vocês são novos, logo terão outros filhos, - Isso é mais comum do que você imagina, - Tudo passa, isso também vai passar, - Só o tempo pode ajudar, etc... Ouvi perguntas indiscretas de pessoas curiosas, mais interessadas no fato do que em nós. Às vezes sentia olhares reprovadores, como se tudo que eu sentisse fosse desnecessário ou exagerado. Somente o Meu Bem e o meu sogro expressaram seus sentimentos em relação a morte do Guilherme, e isto me ajudou muito. Minha mãe apelidou o Guilherme de Cometinha, porque ele passou muito rápido para iluminar a todos com a sua presença. Os demais familiares preferiram não demonstrar seus sentimentos, preocupando-se mais conosco. Conversar sobre tudo o que aconteceu era muito difícil, se o assunto viesse à tona me entristecia e se não viesse parecia descaso das pessoas. Em várias ocasiões eu fui amparada por comentários felizes, por pessoas que me ligaram e assim me fizeram companhia como a tia Joana e o meu amigo Mario. O meu chefe Moraes, gentilmente avisou a todos os meus colegas de trabalho daqui e de Santa Catarina sobre o que ocorreu. Minha irmã me disse, muito amorosa: - Quando você quiser conversar, eu estou a sua disposição. Também foram várias vezes que recebi muito carinho. Não conheço regras de etiqueta para lidar com pessoas fragilizadas diante da perda de entes queridos, mas hoje quando me deparo com a necessidade de conversar com pessoas que passaram por uma situação de perda eu procuro:
- Respeitar a sua dor;
- Me colocar em seu lugar;
- Não digo que com o tempo a dor vai passar, pois ela vai é se transformar;
- Não faço perguntas indiscretas e desnecessárias sobre em que condições ocorreu a morte;
- Sempre que for verdadeiro, eu demonstro meus sentimentos, deixando claro que também estou sentido a ausência desta pessoa, demonstrando solidariedade;
- Conto aos conhecidos em comum sobre a ocorrência da morte, para evitar que os familiares mais próximos tenham que fazê-lo em outro momento;
- Telefono periodicamente para conversar sobre como a pessoa está, e me coloco a disposição para conversar com ela sobre tudo o que ocorreu, se ela quiser;
- Visitar se houver intimidade;
- Durante as conversas, incentivar que a pessoa inicie ou dê continuidade a antigos projetos;
- Se possível, convidar a pessoa para participar de atividades úteis;
- Se possível, poupar a pessoa de situações constrangedoras;
- Se eu não sei o que falar, digo apenas: - Sinto muito que vocês tenham que passar por isto e me coloco a disposição para ajudá-los no que for possível PONTO FINAL; e,
- Ter muita paciência.

Existem momentos para os quais ainda não inventaram palavras, e na minha opinião, a melhor maneira de preencher esta lacuna é com amor e prece. Mas mesmo com todo o cuidado, no tratamento com pessoas passando por processo de luto, algumas gafes podem ocorrer, mesmo porque as pessoas são diferentes e sentem de forma diferente. E perceber isto me deu motivo para compreender todos aqueles que de alguma forma foram insensíveis em relação a minha dor.

sábado, 4 de setembro de 2010

Planos desfeitos



Photo Credit: Timobalk

Eu sempre gostei de fazer analogias pra explicar as minhas dores. Quando criança dizia ao médico que a minha dor de garganta era como se a saliva tivesse que pular um obstáculo, como um cavalo tem que saltar um obstáculo em uma prova de hipismo.
Às vezes eu comparo a experiência de presenciar a vida e a partida do Guilherme à passagem de um Tsunami. Em segundos, tudo que parecia sólido é destruído. E você não tem mais nada, não tem nem para onde ir. Eu me senti assim muitas vezes: arrasada. Sentia que os meus planos de ser mãe, acalentados desde as primeiras brincadeiras com bonecas, foram levados pela água. Eu me senti perdida, sem rumo. Senti uma imensa falta do que não vivi e do que sonhei viver. Vi meus planos se desmancharem sem que eu pudesse fazer nada. Aos poucos fui me conscientizando de que os planos de ser mãe não foram destruídos, foram só adiados. E que era hora de completar as lacunas com novos desejos. Mas com uma diferença, reservando um espaço para um “plano B”. Uma alternativa para quando o plano principal mudar completamente de trajetória. Pessimismo? Não. Segurança. Assim, caso algo não saia conforme planejado, tem-se um outro caminho a seguir, ao invés de nenhum.