Em um determinado
momento me vi a questionar sobre o porquê dos acontecimentos infelizes em
nossas vidas. Por que perdemos um filho querido? Por que ficamos doentes? Por
que passamos por dificuldades? Por que os nossos desejos não se realizam? Por
que alguns se encontram em situações mais “felizes” que a nossa? E foi inevitável
colocar minhas crenças em cheque. Em busca de respostas fui recuperar alguns
conceitos na Doutrina Espírita, para embasar as minhas reflexões.
Depois de muita
leitura, estudos, conversas, palestras, vídeos, consegui chegar a algumas
conclusões interessantes. Hoje, eu agradeço a Deus pela breve passagem do Gui
em nossas vidas. Com ele aprendi que os filhos não nos pertencem, suas vidas
não nos pertencem. Nossos caminhos seguiram direções distintas, mas poderemos
nos reencontrar, em sonhos ou em outras reencarnações. Cada um de nós tem uma
programação de vida, e na programação do Guilherme não era necessária a experiência
de viver atrelado a um corpo físico que poderia ter uma série de limitações,
devidas aos instantes de falta de oxigenação de seu cérebro. Já na nossa
programação, havia a necessidade de enfrentarmos uma separação tão repentina,
de lidar com esta perda. As experiências pelas quais passamos tem relação com
nossos atos em vidas passadas e nas escolhas diárias, e estão sempre em acordo com
a Lei de Causa e Efeito, tendo por objetivo maior a nossa melhoria íntima. Reconhecer
em cada experiência uma oportunidade de aprendizado, exercitar a resignação, paciência,
fé, amor, esperança, desapego, é o nosso desafio diário.
***
Questão 132 de O livro dos Espíritos (LE): Qual é o objetivo da
encarnação dos Espíritos?
– A Lei de Deus lhes impõe a encarnação com o objetivo de fazê-los chegar à
perfeição. Para uns é uma expiação; para outros é uma missão. Mas, para chegar
a essa perfeição, devem sofrer todas as tribulações da existência corporal: é a
expiação. A encarnação tem também um outro objetivo: dar ao Espírito condições
de cumprir sua parte na obra da criação. Para realizá-la é que, em cada mundo,
toma um corpo em harmonia com a matéria essencial desse mundo para executar aí,
sob esse ponto de vista, as determinações de Deus, de modo que, concorrendo
para a obra geral, ele próprio se adianta.
☼ A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do universo.
Deus, em sua sabedoria, quis que, numa mesma ação, encontrassem um meio de
progredir e de se aproximar Dele. É assim que, por uma lei admirável da
Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na natureza.
Questão 133 (LE): Os Espíritos que, desde o princípio, seguiram o caminho
do bem, têm necessidade da encarnação?
– Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e
tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer só alguns
felizes, sem dificuldades e sem trabalho e, por conseguinte, sem mérito.
Questão 133 a (LE): Mas, então, de que serve aos Espíritos seguirem o
caminho do bem, se isso não os livra das dificuldades da vida corporal?
– Eles chegam mais rápido à finalidade a que se destinam; e, depois, as
dificuldades da vida são muitas vezes a conseqüência da imperfeição do
Espírito. Quanto menos imperfeições, menos tormentos. Aquele que não é
invejoso, ciumento, avarento ou ambicioso não sofrerá com os tormentos que
procedem desses defeitos.
“Destinação
das crianças após a morte
Questão 197 (LE): O Espírito de uma criança que desencarna em tenra idade
poderá ser tão avançado quanto o de um adulto?
– Algumas vezes é mais, porque pode ter vivido muito mais e ter mais
experiência, principalmente se progrediu.
Questão 197 a (LE): O Espírito de uma criança pode, então, ser mais
avançado do que o de seu pai?
– Isso é muito freqüente. Vós mesmos não vedes isso muitas vezes na Terra?
Questão 198 (LE): De uma criança que morre em tenra idade, e, portanto,
não tendo praticado o mal, podemos supor que seu Espírito pertença aos graus
superiores?
– Se não fez o mal, não fez o bem, e Deus não a isenta das provações que
deve passar. Seu grau de pureza não ocorre porque tenha animado o corpo de uma
criança, mas pelo progresso que já realizou.
Questão 199 (LE): Por que a vida é muitas vezes interrompida na infância?
– A duração da vida de uma criança pode ser, para o Espírito que nela está
encarnado, o complemento de uma existência anterior interrompida antes do
tempo. Sua morte é, muitas vezes, também uma provação ou uma expiação para os
pais.
Questão 199 a (LE): O que acontece com o Espírito de uma criança que
morre em tenra idade?
– Ela recomeça uma nova existência.
☼ Se o homem tivesse apenas uma existência e se, depois dela, sua
destinação futura fosse fixada perante a eternidade, qual seria o mérito de
metade da espécie humana que morre em tenra idade, para desfrutar, sem
esforços, da felicidade eterna? E com que direito ficaria desobrigada e livre
das condições, muitas vezes tão duras, impostas à outra metade? Tal ordem de
coisas não estaria de acordo com a justiça de Deus. Pela reencarnação, a
igualdade é para todos. O futuro pertence a todos sem exceção e sem favorecer a
ninguém. Os que se retardam não podem culpar senão a si mesmos. O homem deve
ter o mérito de seus atos, como tem de sua responsabilidade.
Além do mais, não é racional considerar a infância como um estado normal
de inocência. Não se vêem crianças dotadas dos piores instintos numa idade em
que a educação ainda não pôde exercer sua influência? Não há algumas que
parecem trazer do berço a astúcia, a falsidade, a malícia, até mesmo o instinto
de roubo e de homicídio, apesar dos bons exemplos que lhe são dados de todos os
lados? A lei civil as absolve de seus delitos, porque considera que agem sem
discernimento. E tem razão, porque, de fato, agem mais instintivamente do que
pela própria vontade. Porém, de onde podem se originar esses instintos tão diferentes
em crianças da mesma idade, educadas nas mesmas condições e submetidas às
mesmas influências? De onde vem essa perversidade precoce, senão da
inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para isso?
As que são dadas a vícios, é porque seu Espírito progrediu menos e, portanto,
sofrem as conseqüências, não por seus atos de infância, mas por aqueles de suas
existências anteriores. E é desse modo que a lei é igual para todos, e a
justiça de Deus a todos alcança.”
Há muitas moradas na Casa de meu Pai.
(Jesus –João, 14:2)
“1. Não se turbe o vosso coração. - Credes em Deus, crede também em mim.
Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria
dito, pois me vou para vos preparar o lugar. - Depois que me tenha ido e que
vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que
onde eu estiver, também vós aí estejais. ( S. JOÃO, cap. XIV, vv. 1 a 3.)
Diferentes estados da
alma na erraticidade
2. A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que
circulam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam,
moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos.
Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus também podem
referir-se ao estado venturoso ou desgraçado do Espírito na erraticidade.
Conforme se ache este mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais,
variarão ao infinito o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, as
sensações que experimente, as percepções que tenha. Enquanto uns não se podem
afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os
mundos; enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados
gozam de resplendente claridade e do espetáculo sublime do Infinito;
finalmente, enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes
insulado, sem consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições,
pena sob o guante dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a
quem ama, frui as delícias de uma felicidade indizível. Também nisso, portanto,
há muitas moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.
Diferentes categorias de
mundos habitados
3. Do ensino dado pelos Espíritos, resulta que muito diferentes umas das
outras são as condições dos mundos, quanto ao grau de adiantamento ou de
inferioridade dos seus habitantes. Entre eles há-os em que estes últimos são
ainda inferiores aos da Terra, física e moralmente; outros, da mesma categoria
que o nosso; e outros que lhe são mais ou menos superiores a todos os
respeitos. Nos mundos inferiores, a existência é toda material, reinam
soberanas as paixões, sendo quase nula a vida moral. A medida que esta se
desenvolve, diminui a influência da matéria, de tal maneira que, nos mundos
mais adiantados, a vida é, por assim dizer, toda espiritual.
4. Nos mundos intermédios, misturam-se o bem e o mal, predominando um ou
outro, segundo o grau de adiantamento da maioria dos que os habitam. Embora se
não possa fazer, dos diversos mundos, uma classificação absoluta, pode-se
contudo, em virtude do estado em que se acham e da destinação que trazem,
tomando por base os matizes mais salientes, dividi-los, de modo geral, como
segue: mundos primitivos, destinados às primeiras encarnações da alma
humana; mundos de expiação e provas, onde domina o mal; mundos de
regeneração, nos quais as almas que ainda têm o que expiar haurem novas
forças, repousando das fadigas da luta; mundos ditosos, onde o bem
sobrepuja o mal; mundos celestes ou divinos, habitações de Espíritos
depurados, onde exclusivamente reina o bem. A Terra pertence à categoria dos
mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o homem a braços com tantas
misérias. (...)”
“(...) 12. Entretanto, os mundos felizes não são orbes privilegiados, visto
que Deus não é parcial para qualquer de seus filhos; a todos dá os mesmos
direitos e as mesmas facilidades para chegarem a tais mundos. Fá-los partir
todos do mesmo ponto e a nenhum dota melhor do que aos outros; a todos são
acessíveis as mais altas categorias: apenas lhes cumpre a eles conquistá-las
pelo seu trabalho, alcançá-las mais depressa, ou permanecer inativos por
séculos de séculos no lodaçal da Humanidade. (Resumo do ensino de todos os
Espíritos superiores.)
Mundos de expiações e
de provas
13. Que vos direi dos mundos de expiações que já não saibais, pois basta
observeis o em que habitais? A superioridade da inteligência, em grande número
dos seus habitantes, indica que a Terra não é um mundo primitivo, destinado à
encarnação dos Espíritos que acabaram de sair das mãos do Criador. As
qualidades inatas que eles trazem consigo constituem a prova de que já viveram
e realizaram certo progresso. Mas, também, os numerosos vícios a que se mostram
propensos constituem o índice de grande imperfeição moral. Por isso os colocou
Deus num mundo ingrato, para expiarem aí suas faltas, mediante penoso trabalho
e misérias da vida, até que hajam merecido ascender a um planeta mais ditoso.
14. Entretanto, nem todos os Espíritos que encarnam na Terra vão para aí em
expiação. As raças a que chamais selvagens são formadas de Espíritos que apenas
saíram da infância e que na Terra se acham, por assim dizer, em curso de
educação, para se desenvolverem pelo contato com Espíritos mais adiantados. Vêm
depois as raças semicivilizadas, constituídas desses mesmos Espíritos em via de
progresso. São elas, de certo modo, raças indígenas da Terra, que aí se
elevaram pouco a pouco em longos períodos seculares, algumas das quais hão
podido chegar ao aperfeiçoamento intelectual dos povos mais esclarecidos.
Os Espíritos em expiação, se nos podemos exprimir dessa forma, são exóticos,
na Terra; já tiveram noutros mundos, donde foram excluídos em conseqüência da
sua obstinação no mal e por se haverem constituído, em tais mundos, causa de
perturbação para os bons. Tiveram de ser degradados, por algum tempo, para o
meio de Espíritos mais atrasados, com a missão de fazer que estes últimos
avançassem, pois que levam consigo inteligências desenvolvidas e o gérmen dos
conhecimentos que adquiriram. Daí vem que os Espíritos em punição se encontram
no seio das raças mais inteligentes. Por isso mesmo, para essas raças é que de
mais amargor se revestem os infortúnios da vida. E que há nelas mais
sensibilidade, sendo, portanto, mais provadas pelas contrariedades e desgostos
do que as raças primitivas, cujo senso moral se acha mais embotado.
15. A Terra, conseguintemente, oferece um dos tipos de mundos expiatórios,
cuja variedade é infinita, mas revelando todos, como caráter comum, o servirem
de lugar de exílio para Espíritos rebeldes à lei de Deus. Esses Espíritos tem
aí de lutar, ao mesmo tempo, com a perversidade dos homens e com a inclemência
da Natureza, duplo e árduo trabalho que simultaneamente desenvolve as
qualidades do coração e as da inteligência. E assim que Deus, em sua bondade,
faz que o próprio castigo redunde em proveito do progresso do Espírito. - Santo
Agostinho. Paris, 1862.) (...)”
“(...) Progressão dos
mundos
19. O progresso é lei da Natureza. A essa lei todos os seres da Criação,
animados e inanimados, foram submetidos pela bondade de Deus, que quer que tudo
se engrandeça e prospere. A própria destruição, que aos homens parece o termo
final de todas as coisas, é apenas um meio de se chegar, pela transformação, a
um estado mais perfeito, visto que tudo morre para renascer e nada sofre o
aniquilamento.
Ao mesmo tempo que todos os seres vivos progridem moralmente, progridem
materialmente os mundos em que eles habitam. Quem pudesse acompanhar um mundo
em suas diferentes fases, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros
átomos destinados e constituí-lo, vê-lo-ia a percorrer uma escala
incessantemente progressiva, mas de degraus imperceptíveis para cada geração, e
a oferecer aos seus habitantes uma morada cada vez mais agradável, à medida que
eles próprios avançam na senda do progresso. Marcham assim, paralelamente, o
progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o da
habitação, porquanto nada em a Natureza permanece estacionário. Quão grandiosa
é essa idéia e digna da majestade do Criador! Quanto, ao contrário, é mesquinha
e indigna do seu poder a que concentra a sua solicitude e a sua providência no
imperceptível grão de areia, que é a Terra, e restringe a Humanidade aos poucos
homens que a habitam!
Segundo aquela lei, este mundo esteve material e moralmente num estado
inferior ao em que hoje se acha e se alçará sob esse duplo aspecto a um grau
mais elevado. Ele há chegado a um dos seus períodos de transformação, em que,
de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de regeneração, onde os homens serão
ditosos, porque nele imperará a lei de Deus. - Santo Agostinho. (Paris,
1862.)”
Trecho extraído de O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. III – Há muitas moradas na casa de meu Pai
“(...) Resumo teórico da motivação das ações do homem
Questão 872 (LE): A questão de ter a vontade livre, isto é, o
livre-arbítrio, pode se resumir assim: a criatura humana não é fatalmente
conduzida ao mal; os atos que pratica não estavam antecipadamente determinados;
os crimes que comete não resultam de uma sentença do destino. Ele pode, como
prova e expiação, escolher uma existência em que terá a sedução para o crime,
seja pelo meio em que se encontre ou pelos atos em que tomará parte, mas está
constantemente livre para agir ou não. Assim, o livre-arbítrio existe no estado
de Espírito, com a escolha da existência e das provas, e no estado corporal, na
disposição de ceder ou de resistir aos arrastamentos a que estamos voluntariamente
submetidos. Cabe à educação combater essas más tendências; ela o fará utilmente
quando estiver baseada no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo
conhecimento das leis que regem essa natureza moral será possível modificá-la,
como se modifica a inteligência pela instrução, e como a higiene, que preserva
a saúde e previne as doenças, modifica o temperamento. O Espírito livre da
matéria, no intervalo das encarnações, faz a escolha de suas existências
corporais futuras, de acordo com o grau de perfeição que atingiu, e nisso, como
dissemos, consiste principalmente o seu livre-arbítrio. Essa liberdade não é
anulada pela encarnação. Se cede à influência da matéria é porque fracassa nas
próprias provas que escolheu, e para ajudá-lo a superá-las pode evocar a
assistência de Deus e dos bons Espíritos. (Veja a questão 337.)
Sem o livre-arbítrio o homem não teria nem culpa na prática do mal, nem
mérito no bem; e isso é igualmente reconhecido no mundo, onde sempre se faz
censura ou elogio à intenção, ou seja, à vontade; portanto, quem diz vontade
diz liberdade. Eis por que o homem não pode justificar ou desculpar suas faltas
atribuindo-as ao seu corpo sem abdicar da razão e da condição de ser humano
para se igualar ao irracional. Se o corpo humano fosse responsável pela ação
para o mal, o seria igualmente na ação para o bem. Entretanto, quando o homem
faz o bem, tem grande cuidado para evidenciar o fato em seu favor, como mérito
seu, e não exalta ou gratifica seus órgãos. Isso prova que, instintivamente,
ele não renuncia, apesar da opinião de alguns filósofos sistemáticos, ao mais
belo dos privilégios de sua espécie: a liberdade de pensar.
A fatalidade, como se entende geralmente, faz supor que todos os
acontecimentos da vida estão prévia e irrevogavelmente decididos, e estão na
ordem das coisas, seja qual for sua importância. Se assim fosse, o homem seria
uma máquina sem vontade. Para que serviria sua inteligência, uma vez que em
todos os atos seria invariavelmente dominado pelo poder do destino? Uma
doutrina assim, se fosse verdadeira, teria em si a destruição de toda liberdade
moral; não haveria mais responsabilidade para o homem e, conseqüentemente, nem
bem, nem mal, nem crimes, nem virtudes. Deus, soberanamente justo, não poderia
castigar suas criaturas por faltas que não dependeram delas nem recompensá-las
pelas virtudes das quais não teriam o mérito. Uma lei assim seria, além disso,
a negação da lei do progresso, porque o homem que esperasse tudo do destino
nada tentaria para melhorar sua posição, já que não conseguiria mudá-la nem
para melhor nem para pior.
A fatalidade não é, entretanto, uma idéia vã; ela existe na posição que o
homem ocupa na Terra e nas funções que aí cumpre, por conseqüência do gênero de
existência que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou missão. Ele sofre,
fatalmente, todas as alternâncias dessa existência e todas as tendências, boas
ou más, que lhe são próprias; porém, termina aí a fatalidade, porque depende de
sua vontade ceder ou não a essas tendências. O detalhe dos acontecimentos
depende das circunstâncias que ele mesmo provoca por seus atos e sobre as quais
os Espíritos podem influenciar pelos pensamentos que sugerem. (Veja a questão
459.)
A fatalidade está, portanto, para o homem, nos acontecimentos que se apresentam,
uma vez que são a conseqüência da escolha da existência que o Espírito fez.
Pode deixar de ocorrer a fatalidade no resultado dos acontecimentos, quando o
homem, usando de prudência, modifica-lhes o curso. Nunca há fatalidade nos atos
da vida moral.
É na morte que o homem está submetido, de uma maneira absoluta, à implacável
lei da fatalidade, porque não pode escapar da sentença que fixa o fim de sua
existência, nem do gênero de morte que deve interrompê-la.
De acordo com a opinião geral, o homem possuiria todos os seus instintos em
si mesmo; eles procederiam de seu próprio corpo, pelos quais não poderia ser
responsável, ou de sua própria natureza, na qual pode encontrar uma desculpa,
para si mesmo, dizendo que não é sua culpa, uma vez que foi criado assim.
A Doutrina Espírita é evidentemente muito mais moral: admite no homem o
livre-arbítrio em toda sua plenitude e, ao lhe dizer que, se faz o mal, cede a
uma má sugestão exterior, deixa-lhe toda a responsabilidade, uma vez que
reconhece seu poder de resistir, o que é evidentemente mais fácil do que lutar
contra sua própria natureza. Assim, de acordo com a Doutrina
Espírita, não há sedução irresistível: o homem pode sempre fechar os ouvidos
à voz oculta do obsessor que o induz ao mal em seu íntimo, assim como pode
fechá-los quando alguém lhe fala; pode fazer isso por sua vontade, ao pedir a
Deus a força necessária e rogando a assistência dos bons Espíritos. É o que
Jesus nos ensina na sublime prece do Pai Nosso: “Não nos deixeis cair em
tentação, mas livrai-nos do mal”.
Essa teoria que mostra a causa determinante dos nossos atos ressalta
evidentemente de todo o ensinamento dado pelos Espíritos. Não é apenas sublime
em moralidade, mas acrescentaremos que eleva o homem a seus próprios olhos.
Mostra-o livre para repelir um domínio obsessor, como pode fechar sua casa aos
importunos. Não é mais uma máquina que age por um impulso independente de sua
vontade; é um ser racional, que escuta, julga e escolhe livremente um entre
dois conselhos. Apesar disso, o homem não está impedido de agir por sua
iniciativa, por impulso próprio, já que, definitivamente, é apenas um Espírito
encarnado que conserva, sob o corpo, as qualidades e os defeitos que tinha como
Espírito. As faltas que cometemos têm, portanto, sua origem na imperfeição de
nosso próprio Espírito, que ainda não atingiu a superioridade moral que terá um
dia, mas que nem por isso tem seu livre-arbítrio limitado. A vida encarnada lhe
é dada para se depurar de suas imperfeições pelas provas que passa, e são precisamente
essas imperfeições que o tornam mais fraco e acessível às sugestões de outros
Espíritos imperfeitos, que aproveitam para se empenhar em fazê-lo fracassar na
luta. Se sai vencedor, eleva-se; se desperdiça a oportunidade e fracassa,
permanece o que era, nem pior, nem melhor: é uma prova que terá de recomeçar, e
isso pode durar muito tempo. Quanto mais se depura, mais seus pontos fracos
diminuem e menos se expõe àqueles que procuram incitá-lo ao mal; sua força
moral cresce em razão de sua elevação e os maus Espíritos se afastam dele.
A raça humana é constituída tanto de Espíritos bons quanto de maus, que
estão encarnados neste planeta, e como a Terra é um dos mundos menos avançados,
nela se encontram mais Espíritos maus do que bons; por isso há tanta perversidade
aqui.
Façamos, portanto, todos os esforços para não
voltarmos aqui após essa existência e merecermos ser admitidos num mundo
melhor, num desses mundos privilegiados onde o bem reina absoluto, e
lembraremos de nossa passagem pela Terra apenas como um exílio temporário.”
Trecho extraído de O Livro dos Espíritos, Parte III, Cap. 10 – Lei de Liberdade – Resumo teórico da motivação das ações do homem.
Expiação, Prova e Missão
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Definição
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Características
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EXPIAÇÃO
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Expiar, segundo
a definição vulgar, significa sofrer em função de alguma coisa. A expiação
surge como objetivo encarnatório, quando o homem malbarata o código divino que
rege o universo. Quando o indivíduo por excessos, maldade ou por imprudência
fere a lei geral que cuida dos nossos destinos, torna-se incurso na Lei de
Causa e Efeito, para que, através do sofrimento, se reeduque.
"A
expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que são consequentes à uma
falta, seja na vida atual, seja na vida espiritual após a morte, ou ainda em
nova existência corporal." [O Céu e o Inferno, cap. VIII]
Em [O Consolador],
questão 246, Emmanuel afirma:
"A
expiação é a pena imposta ao malfeitor que comete um crime."
|
- Sempre
dolorosa
- Sempre ligada
a uma falta
|
PROVA
|
Ainda em [O
Consolador], questão 246, Emmanuel continua:
"A prova
é a luta que ensina ao discípulo rebelde e preguiçoso a estrada do trabalho e
da edificação espiritual."
As provas são
uma série de situações apresentadas ao Espírito encarnado objetivando o seu
crescimento. Através do esforço próprio, das lutas e do sacrifício ele vai
burilando a sua personalidade, desenvolvendo a sua inteligência e se
iluminando espiritualmente.
"Não se
deve crer que todo sofrimento por que se passa neste mundo seja necessariamente
o indício de uma determinada falta: trata-se, freqüentemente, de simples
provas escolhidas pelo Espírito, para acabar a sua purificação e acelerar o
seu adiantamento." [Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V item 9]
Lembra Kardec
que nem toda prova é uma expiação, mas em toda expiação há uma prova, porque
diante do sofrimento expiatório, o homem ver-se-á convidado a desenvolver
(lutar) pelos valores de resignação.
|
- Não está
vinculada a uma falta
- Não é sempre
dolorosa, embora possa ser
- Representa
sempre luta para crescimento pessoal
|
MISSÃO
|
"Um
Espírito querendo avançar mais, solicita uma missão, uma tarefa, pela qual
será tanto ou mais recompensado, se sair vitorioso."
[Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, item 9]
Pelo exposto,
podemos entender a missão como sendo uma tarefa específica que objetiva o bem
da criatura.
Lembra ainda
Kardec que:
"Todo
homem, sobre a Terra, tem uma pequena ou grande missão" e que "as
missões dos Espíritos tem sempre o bem por objeto. Há tantos gêneros de
missões quanto as espécies de interesses a resguardar."
Informa que a
importância das missões está em relação com a capacidade e a elevação do
Espírito, e que cada um tem sua missão neste mundo, porque cada um pode ser
útil em algum sentido.
Kardec [O Céu e
o Inferno] emprega ainda a expressão reparação para designar aquela condição
onde o indivíduo reencarna com o propósito de fazer o bem a quem ontem fez o
mal.
Pode-se considerar
a reparação como uma variante da missão.
|
- Tarefa
específica
- Pressupõe
certa condição evolutiva prévia
- Objetiva o
melhoramento de algo ou alguém”
|
Trecho extraído de Reencarnação: Objetivos (Centro Espírita Celeiro da Luz)
Origem dos Sofrimentos
"Os
sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se
originam de culpas atuais, são muitas vezes a consequência da falta cometida,
isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que
fez sofrer aos outros." (O Evangelho Segundo o Espiritismo).
"Na
raiz de qualquer tipo de sofrimento sempre será encontrado como seu autor o
próprio espírito, que se conduziu erroneamente, trocando o mecanismo do amor
pela dor, no processo da sua evolução.
A
fim de apressar a recuperação, eis que se inverte a ordem dos acontecimentos,
sendo a dor o meio de levá-lo de volta ao amor, por cuja trilha se faz pleno.
Ninguém
se encontra isento do patrimônio de si mesmo como resultado dos próprios atos.
São eles os responsáveis diretos por todas as ocorrências da marcha evolutiva,
o que constitui grande estímulo para o ser, liberando-o dos processos de
transferência de responsabilidade para outrem ou para os fatores
circunstanciais, sociais, que normalmente são considerados perturbadores."
(Autodescobrimento – uma busca interior, ditado pelo Espírito de Joanna de Ângelis,
psicografado por Divaldo Pereira Franco).
"Sejamos,
portanto, vigilantes, prudentes e virtuosos na vida, para não aprendermos, com
a dor e os sofrimentos, o rigor da Lei de Causa e Efeito. Conhecendo esse mecanismo
sábio da justiça Divina progredimos na hierarquia espiritual, pois empregamos
bem as faculdades, buscamos as boas experiências, acumulamos os conhecimentos
úteis e despertamos, em nós mesmos, o senso moral que combate as más tendências
e mantém sadias as forças interiores." (Equilíbrio íntimo pelo
Espiritismo, Geziel Andrade).
Cada um é, portanto, o arquiteto das suas construções de
felicidade ou de desdita." (Tormentos
da Obsessão, ditado pelo Espírito de Manoel Philomeno de Miranda, psicografado
por Divaldo Pereira Franco).