terça-feira, 31 de agosto de 2010

Os sinais

Com a repetição do “filme” encontrei sinais de que tudo o que aconteceu já estava planejado (1), e que de alguma forma eu já sabia sobre o nosso destino. No sexto mês de gestação eu tive a impressão de que minha barriga não ia crescer muito mais, quando comentei sobre isto com a Laila, ela me disse que era a partir daquele momento que ia crescer, e muito rapidamente. Às vezes eu acordava com uma melancolia, sem motivo aparente, e dizia para mim mesma: - Vamos lá, que tristeza é esta? Está tudo bem! Também tinha uma necessidade de preparar as coisas do Guilherme, eu tinha tanto medo que ele nascesse e não tivesse roupas para colocar e que seu quarto não estivesse pronto. Como ainda havia muito tempo para o seu nascimento, a maioria das pessoas a minha volta achavam que eu estava me precipitando. Eu sofri muito por não ter conseguido arrumar o seu quarto. Eu queria provar pro Gui que tudo estava pronto pra sua chegada. Depois de muita conversa com a minha Psicóloga, e com outras pessoas me convenci de que a maior prova que eu poderia ter dado a ele era o amor que senti e sinto até hoje. Mas ainda lembro como se fosse hoje do último dia de aula da minha turma de informática, quando um dos meus alunos, me disse ao sair: - Vou orar (2) por você professora! E eu respondi: - Por favor, orações nunca são demais. E eu sei que ele e muitas outras pessoas oraram por mim, para que eu pudesse hoje escrever sobre tudo o que nos aconteceu. Muito obrigada a todos!


NOTAS:
(1) Questões questões n° 258 a 273 de O Livro dos Espíritos, , Cap. VI – Vida Espírita. Escolha das provas.
"258 Na espiritualidade, antes de começar uma nova existência corporal, o Espírito tem consciência e previsão das coisas que acontecerão durante sua vida?
– Ele mesmo escolhe o gênero de provas que quer passar. Nisso consiste seu livre-arbítrio.
258 a Então não é Deus que impõe os sofrimentos da vida como castigo?
– Nada acontece sem a permissão de Deus, que estabeleceu todas as leis que regem o universo. Perguntareis, então, por que Ele fez esta lei em vez daquela. Ao dar ao Espírito a liberdade de escolha, deixa-lhe toda a responsabilidade de seus atos e de suas conseqüências, nada impede seu futuro; o caminho do bem está à frente dele, assim como o do mal. Mas, se fracassa, resta-lhe uma consolação: nem tudo está acabado para ele. Deus, em sua bondade, deixa-o livre para recomeçar, reparando o que fez de mal. É preciso, aliás, distinguir o que é obra da vontade de Deus e o que é obra do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós que o criastes, foi Deus; mas tendes a liberdade de vos expor a ele, por terdes visto aí um meio de adiantamento, e Deus o permitiu.
259 Se o Espírito tem a escolha do gênero de prova que deve passar, todas as dificuldades que experimentamos na vida foram previstas e escolhidas por nós?
– Todas não é a palavra, porque não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo que vos acontece neste mundo, até nas menores coisas. Vós escolhestes os gêneros das provas; os detalhes são conseqüência da situação em que viveis e, freqüentemente, de vossas próprias ações. Se o Espírito quis nascer entre criminosos, por exemplo, sabia dos riscos a que se exporia, mas não tinha conhecimento dos atos que viria a praticar; esses atos são efeito de sua vontade ou de seu livre-arbítrio. O Espírito sabe que, ao escolher um caminho, terá uma luta a suportar; sabe a natureza e a diversidade das coisas que enfrentará, mas não sabe quais os acontecimentos que o aguardam. Os detalhes dos acontecimentos nascem das circunstâncias e da força das coisas. Somente os grandes acontecimentos que influem na vida estão previstos. Se seguis um caminho cheio de sulcos profundos, sabeis que deveis tomar grandes precauções, porque tendes a probabilidade de cair, mas não sabeis em qual deles caireis; pode ser que a queda não aconteça, se fordes prudente o bastante. Se, ao passar na rua, uma telha cai na vossa cabeça, não acrediteis que estava escrito, como se diz vulgarmente. (...)

264 Como o Espírito escolhe as provas que quer suportar?
– Ele escolhe as que podem ser para ele uma expiação, pela natureza de seus erros, e lhe permitam avançar mais rapidamente. Uns podem, ao escolher, se impor uma vida de misérias e privações para tentar suportá-la com coragem; outros querem se experimentar nas tentações da riqueza e do poder, muito perigosas, pelo abuso e o mau uso que delas se possa fazer e pelas paixões inferiores que desenvolvem; outros, enfim, preferem se experimentar nas lutas que têm que sustentar em contato com o vício.(...)"

(2) “...A prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces feitas a Deus escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons Espíritos são reportadas a Deus. Quando alguém ora a outros seres que não a Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, a intercessores, porquanto nada sucede sem a vontade de Deus”...
“...Desta máxima: "Concedido vos será o que quer que pedirdes pela prece", fora ilógico deduzir que basta pedir para obter e fora injusto acusar a Providência se não acede a toda súplica que se lhe faça, uma vez que ela sabe, melhor do que nós, o que é para nosso bem. É como procede um pai criterioso que recusa ao filho o que seja contrário aos seus interesses. Em geral, o homem apenas vê o presente; ora, se o sofrimento é de utilidade para a sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma operação que lhe trará a cura.
O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante idéias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação. Ele assiste os que se ajudam a si mesmos, de conformidade com esta máxima: "Ajuda-te, que o Céu te ajudará"; não assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das faculdades que possui. Entretanto, as mais das vezes, o que o homem quer é ser socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço. (Cap. XXV, nº 1 e seguintes.)”

Trechos do Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. 27 - Pedi e obtereis

domingo, 29 de agosto de 2010

Culpa

Photo Credit: Sebarex


Revivi muitas vezes tudo o que aconteceu, sempre com o objetivo de encontrar respostas para os meus por quês. A cada repetição, eu avaliava diferentes detalhes e encontrava novas peças para solucionar o enigma. Enfim, cheguei a conclusão de que havia feito tudo o que foi solicitado pela minha Médica, e que fiz tudo o que poderia ter feito pelo Guilherme, mesmo que fosse muito pouco. Eu o amei muito e ainda amo. Um dia, em minha orações pedi perdão a ele se porventura houvesse feito alguma coisa que o prejudicou. Se fiz, foi sem querer, se fiz, foi por ignorância. Mas confesso que mesmo assim, foi inevitável pensar que poderia ter feito algumas coisas diferentes. Poderia ter engravidado mais cedo, poderia ter ido mais vezes ao Médico, poderia ter procurado um Cardiologista mais cedo, poderia ter sido uma gestante mais desconfiada e questionadora. Também poderia ter tomado as doses máximas de calmante que a Médica havia permitido, mas eu não tomei, pois só tomo remédios se realmente necessário. Poderia ter passado mais tempo com o Guilherme na UTIN. Eu era a maior responsável por ele. A repetição do filme só terminou quando me certifiquei de que não havia mais nenhum nicho a vasculhar, e conclui que fiz tudo o que estava ao meu alcance. Hoje em dia, rezo por ele, coloco seu nome na lista de Irradiação e procuro viver em equilíbrio.

*** 

Na sequência, reuni alguns trechos de textos da literatura espírita que tratam sobre o sentimento de culpa.


“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”
Francisco Cândido Xavier

"(...) O  processo  do  culpismo  é  formado  por  três  atitudes: julgamento, condenação e  punição, que pode ser tanto de si mesmo, como dos outros. Diante de um ato equivocado que possa ter cometido, a pessoa se autojulga, considerando a ação errada, por isso se autocondena e, posteriormente, se autopune para sofrer as consequências  de  seu  erro. Em algumas pessoas, seguindo-se á autopunição, existe uma quarta  atitude que é de autopiedade, por se sentir uma coitada, sofrendo dolorosamente, sem  perdão.
A mesma coisa fazemos com os erros dos outros: os julgamos, condenamos e punimos. (...) Quem se culpa não assume a responsabilidade pela condução da sua vida. Constitui-se, num nível profundo, um movimento de fuga. É mais fácil sofrer e se sentir um coitado, do que tomar nas mãos a responsabilidade por contruir a própria felicidade, pois isto só acontece com esforço pessoal. (...)
Para nos libertarmos, tanto da culpa, quanto da desculpa, necessitamos cultivar o processo da ação responsável. (...)
A ação responsável é um processo de auto-exame consciente de si mesmo, propiciador do autoperdão. Inicia-se com a autoconsciência, na qual a pessoa irá observar-se para perceber os seus atos, classificando-os em acertos, quando estiverem em conformidade com a lei do amor, e erros, quando forem provenientes do desamor e pseudo-amor.
Ao se perceber em erro, ao invés de entrar no julgamento gerador de remorso ineficaz, proveniente da consciência de culpa ou na tentativa infrutífera de fugir dele, o indivíduo tem uma atitude responsável, não de auto-acusação, mas de perceber que foi ele que cometeu aquele ato e somente ele pode repará-lo.
Após assumir a responsabilidade, segue-se o arrependimento, pois o erro praticado, é um ato de desamor, portanto contrário às leis divinas e, então é necessário se arrepender de tê-lo cometido.
Após se arrepender, inicia uma auto-análise do erro, buscando examiná-lo, istó é, refletir sobre o motivo pelo qual cometeu aquela ação equivocada, o que o levou a agir com desamor, para poder aprender com o erro.
Percebamos, com isso, que o erro faz parte da didática divina, pois do contrário, Ele nos teria criado perfeitos para não errarmos. Se buscarmos sempre no erro cometido um aprendizado, estaremos evoluindo tanto com os acertos, quanto com os erros. No final, o que conta é a evolução do ser humano na busca da sua iluminação.
Após ter buscado aprender com o erro. é necessário iniciar ações de reparação. A ação responsável  diante da vida exige que reparemos o desamor, transformando tal atitude em atos de amor. (...)" 
Trecho extraído do  livro Jesus e Kardec, modelos para os trabalhadores do Movimento Espírita, escrito por Alírio de Cerqueira Filho, Santo André, SP, Editora Bezerra de Menezes, 2005, p. 140-143.

***
Culpas e desculpas
Texto extraído do Momento Espírita, escrito pela Equipe de Redação do Momento Espírita.

"Você já refletiu sobre o que representa a culpa em nossas vidas?
Não há dúvida de que o sentimento de culpa é um dos grandes responsáveis por nossa infelicidade.
Quando fazemos algo que nos causa um desconforto íntimo pertinaz, é bem provável que seja a culpa se instalando.
Mas o que fazer para que esse sentimento não se aloje em nossa intimidade e nos traga fortes dissabores?
Parece lógico que a melhor atitude é a que elimina, em definitivo, esse desconforto de nossa alma.
E que atitude poderia ser mais eficaz do que um sincero pedido de desculpas?
Todavia, pedir desculpas significa admitir que nos equivocamos, e isso mexe diretamente com nosso orgulho.
O que geralmente fazemos, então?
Ficamos remoendo o desconforto e buscamos alguém a quem culpar pela atitude que nossa consciência desaprova.
Não seria mais coerente pedir perdão?
Logicamente seria, mas o orgulho muitas vezes nos impede.
O que fazemos, então?
Preferimos nos punir de outra maneira. E geralmente optamos pelas enfermidades...
A consciência nos acusa, mas em vez de resolver a questão com a humildade de um aprendiz, preferimos a autopunição velada.
Em vez de pedir perdão, optamos pelo sofrimento. Em vez de aliviar a alma admitindo que somos frágeis e nos equivocamos, preferimos nos esconder sob a máscara de uma perfeição da qual ainda estamos distantes.
Por não admitir as nossas próprias fraquezas, também não as admitimos nos outros, e agimos com um rigor desmedido, infelicitando-nos e infelicitando os que conosco convivem.
Mais sensato seria reconhecer que somos aprendizes da vida, e que todo aprendiz tem o direito de errar, mas tem também o dever de corrigir o passo e seguir em frente.
Como aprendizes da vida, não estamos isentos do erro, da queda, das fragilidades que caracterizam a nossa condição de alunos imperfeitos.
Assim sendo, vale a pena agir como quem deseja crescer, aprender, ser feliz. E para isso é preciso saber pedir perdão, saber perdoar, saber tolerar...
Só não admite erros a pessoa que se julga infalível, perfeita, acima do bem e do mal. E essa, certamente é uma pessoa infeliz.
Se quisermos aprender a ser mais leves e menos presunçosos, observemos as crianças. Elas não têm vergonha de pedir desculpas, não guardam mágoa nem rancor.
Quando se machucam, elas choram... Pedem socorro, reconhecem sua fragilidade...
Se não conseguem alcançar algo, pedem ajuda. Para entender as coisas, perguntam várias vezes.
Quando sentem medo, admitem. Pulam no colo mais próximo ou se enroscam no pescoço do amigo ou irmão mais velho.
Isso se chama humildade, isso se chama pureza. Isso se chama sabedoria.
É por isso que as crianças aprendem. Elas não têm vergonha de ser aprendizes da vida.

***

O sentimento de culpa é um detrito moral que fustiga a alma. A pessoa que carrega esse fardo, sofre e não admite ser feliz.
Assim sendo, se você não tem a pretensão de ser infalível, perdoe-se, peça perdão, liberte-se desse lixo chamado culpa, e siga em frente."

Os sentimentos mais frequentes

Na sequência, reuni textos que falam sobre os sentimentos que vivenciei durante a “licença maternidade”, eles podem parecer um tanto desconexos, e sem ordem cronológica, mas são assim mesmo. Esta aparente incoerência reflete a minha instabilidade emocional, e a luta interna contra o domínio dos sentimentos infelizes. Uma verdadeira batalha entre como eu estava e quem eu queria ser. Difícil de explicar, mas mais difícil ainda de viver isto. Por isto, ao ler os próximos textos, é bem provável que pareça que há algo de errado, ou alguma coisa fora do lugar, e realmente há: uma mãe lutando para sobreviver sem seu filho. Na minha revisão, eu tentei melhorar a  sequência dos textos e subdividir aqueles que tratavam de muitos assuntos ao mesmo tempo, mas eu não quis mexer muito mais para que fosse fiel ao meu estado de espírito na ocasião. Então peço desculpas antecipadamente pela confusão. Infelizmente, esta confusão não acaba com a licença maternidade, ela continua, até os dias de hoje, mas vem se diluindo com o passar do tempo.

Ante os que partiram

Trecho extraído do Momento Espírita, escrito pela equipe da Redação do Momento Espírita, com base no capítulo 29 do livro Revelações da luz, pelo Espírito Camilo, psicografia de J. Raul Teixeira, ed. Fráter  e no cap. Ante os que partiram, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 23.03.2009.

É possível que nenhum sofrimento na Terra seja comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração enregelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio.
Ver a névoa da morte estampar-se, inevitável, na fisionomia daqueles que mais amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo.
Digam aqueles que já apertaram contra o peito o corpo inerte de um ser amado, consumidos pela dor e pela angústia da separação.
Falem aqueles que, varados de saudade, inclinaram-se, esmagados de solidão, à frente de um túmulo, perguntando em vão pela presença dos que partiram.
Todavia, quando semelhante provação te bater à porta, reprime o desespero e dilui a corrente de mágoa, na fonte viva da oração, porque os chamados mortos são apenas ausentes e as gotas de teu pranto amargo e revoltado lhes fustigam a alma.
Também eles pensam e lutam, sentem e choram.
Atravessaram a faixa do sepulcro como quem se desvencilha da noite, mas, na madrugada do novo dia, inquietam-se pelos que ficaram.
Ouvem-lhes as lamúrias e as súplicas e sofrem cada vez que os afetos deste plano da vida se rendem à inconformação ou ao desânimo.
Lamentam-se pelos erros praticados e trabalham, com afinco, na regeneração que lhes diz respeito.
Estimulam-te à prática do bem, compartilhando contigo de dores e de alegrias.
Rejubilam-se com tuas vitórias e consolam-te nas horas amargas, para que não te percas no frio do desencanto.

Tranquiliza, desse modo, aqueles que te antecederam no regresso à pátria espiritual, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.
Recorda que, em futuro mais próximo que imaginas, respirarás entre eles, dividindo outra vez necessidades e problemas, porque terminarás tu também a própria viagem no mar das provas redentoras.
Para e pensa, pois, nessas questões.
Não obstante a morte imponha amargura e dor, frustração e lágrimas naqueles que ficam, vale a pena permaneças vigilante, a fim de evitar excessos que te impeçam de pensar com clareza.
A morte não é o fim absoluto da querida convivência dos que se prezam, dos que se amam.
Cultiva, então, o bom senso.
Sofre e chora, sem que o teu sofrimento perturbe os outros, sem que tuas lágrimas tragam desequilíbrio para tua intimidade.
Retira o bom aproveitamento do padecer, amadurecendo, superando-te, para que as tuas provações ou expiações humanas, de fato, façam-te avançar para Deus.

***

Chora teus mortos?
Então faze desse pranto um aceno de ternura e um bilhete de paz, onde tu digas aos amores desencarnados:
Permitiu Deus que te libertasses antes de mim, e eu disso queixo-me por egoísmo, porque preferiria ver-te ainda sujeito às penas e sofrimentos da vida.
Espero, pois, resignado, o momento de nos reunirmos de novo no mundo mais venturoso no qual me precedeste.
Até breve e que Deus te abençoe, ser querido!

sábado, 28 de agosto de 2010

Perda pela morte

Texto extraído do livro Autodescobrimento: uma busca interior, ditado pelo espírito de Joana de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco, 16 Ed., 1995, páginas 132-133.

“(...) Profunda e dilaceradora é a aflição que decorre da perda de pessoas queridas, mediante o fenômeno da morte. Essa dor, no entanto, é decorrente, entre outros fatores, de atavismos psicológicos, filosóficos e religiosos, que não educaram o indivíduo a considerar natural, como o é, a ocorrência que faz parte do processo orgânico pelo qual a Vida se expressa.
A própria conceituação de morte como fim é frágil e insustentável, porque nada se aniquila, e os mortos não tem interrompido o fluxo existencial. Transferem-se de faixa vibratória, deslocam-se temporariamente, mas não se aniquilam. Continuam a viver, comunicam-se com aqueles que ficaram na Terra, estabelecem novos liames de intercâmbio, aguardam os afetos e recebem-nos, por sua vez, quando desencarnam.
Ademais, o próprio verbo perder, nessa conceituação, encontra-se totalmente deslocado. Pessoas não podem deixar de prosseguir, perdendo-se, no sentido de coisas que deixam os seus possuidores e desaparecem. Ninguém pertence a outrem, e somente se perde o que não se tem...
Assim, as dores acerbas, que acompanham a morte das pessoas queridas, possuem altas cargas de emoções desequilibradas que explodem extemporâneas, com caráter autopunitivo, não afetivo.
Às vezes, a pessoa não era atendida como merecia, enquanto no corpo e, ao morrer aqueles que se descobrem em falta, auto-supliciam-se, fazendo quadros de revolta, desespero e depressão. Noutras ocasiões, projeções de conflitos retidos espocam, gerando maior soma de desequilíbrios. Na maioria das oportunidades, no entanto, são os sentimentos naturais de saudade, de ausência, de ternura que ferem aqueles que ficam, martirizando-os.
É justo que se sofra a dor da separação, que se chore a ausência, que se interrogue em silêncio como se encontrará na nova situação o ser amado. O desespero, no entanto, não se justifica, por não equacionar, nem preencher o vazio que permanece.
Extravasar a dor mediante as recordações felizes, orvalhadas de lágrimas, reviver episódios marcantes com ternura, repartir os haveres com os necessitados em sua memória, envolvê-los em orações e crescer intimamente, são recursos valiosos para a liberação das mágoas decorrentes da morte.
Quase sempre se fazem interrogações ilógicas, nessas situações, como: Por que ele? Por que eu? Ora, todos são mortais, nos equipamentos orgânicos, e o número de óbitos é expressivo, cada vez alcançando este ou aquele indivíduo, ou alguém do seu grupo social.
Pela própria lei das probabilidades chega a vez de todos, um a um, ou coletivamente. É inevitável.
A dor da separação física prolonga-se por largo período de tempo. A princípio é traumatizadora, mostrando-se mais pungente com o transcorrer dos dias. No entanto, digerida pela esperança do reencontro, da comunicação, e graças ao afeto preservado, torna-se luarizada, suavizando-se e conservando somente os sinais da gratidão por se haver fruído da presença querida.
Evitar, pois, a depressão e seus males, ante a morte de alguém afeiçoado, é prova de amor por quem partiu e não pode ser culpado de haver viajado, sem consulta prévia ou anuência, conduzido pela Vida ao retorno às origens, para onde todos seguirão. (...)”

domingo, 22 de agosto de 2010

Jóias devolvidas

Photo Credit Le Tota

Texto extraído do Momento Espírita, escrito pela redação do Momento Espírita, com base no cap. Jóias devolvidas do livro Quem tem medo da morte?, de Richard Simonetti, ed. Gráfica São João.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 2, ed. Fep.


“Narra antiga lenda árabe, que um rabi, religioso dedicado, vivia muito feliz com sua família. Esposa admirável e dois filhos queridos.
Certa vez, por imperativos da religião, o rabi empreendeu longa viagem ausentando-se do lar por vários dias.
No período em que estava ausente, um grave acidente provocou a morte dos dois filhos amados.
A mãezinha sentiu o coração dilacerado de dor. No entanto, por ser uma mulher forte, sustentada pela fé e pela confiança em Deus, suportou o choque com bravura.
Todavia, uma preocupação lhe vinha à mente: como dar ao esposo a triste notícia?
Sabendo-o portador de insuficiência cardíaca, temia que não suportasse tamanha comoção.
Lembrou-se de fazer uma prece. Rogou a Deus auxílio para resolver a difícil questão.
Alguns dias depois, num final de tarde, o rabi retornou ao lar.
Abraçou longamente a esposa e perguntou pelos filhos...
Ela pediu para que não se preocupasse. Que tomasse o seu banho, e logo depois ela lhe falaria dos moços.
Alguns minutos depois estavam ambos sentados à mesa. A esposa lhe perguntou sobre a viagem, e logo ele perguntou novamente pelos filhos.
Ela, numa atitude um tanto embaraçada, respondeu ao marido: Deixe os filhos. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema que considero grave.
O marido, já um pouco preocupado perguntou: O que aconteceu? Notei você abatida! Fale! Resolveremos juntos, com a ajuda de Deus.
Enquanto você esteve ausente, um amigo nosso visitou-me e deixou duas joias de valor incalculável, para que as guardasse. São joias muito preciosas! Jamais vi algo tão belo!
O problema é esse! Ele vem buscá-las e eu não estou disposta a devolvê-las, pois já me afeiçoei a elas. O que você me diz?
Ora, mulher! Não estou entendendo o seu comportamento! Você nunca cultivou vaidades!... Por que isso agora?
É que nunca havia visto joias assim! São maravilhosas!
Podem até ser, mas não lhe pertencem! Terá que devolvê-las.
Mas eu não consigo aceitar a ideia de perdê-las!
E o rabi respondeu com firmeza: Ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo!
Vamos devolvê-las, eu a ajudarei. Iremos juntos devolvê-las, hoje mesmo.
Pois bem, meu querido, seja feita a sua vontade. O tesouro será devolvido. Na verdade isso já foi feito. As jóias preciosas eram nossos filhos.
Deus os confiou à nossa guarda, e durante a sua viagem veio buscá-los. Eles se foram.
O rabi compreendeu a mensagem. Abraçou a esposa, e juntos derramaram grossas lágrimas. Sem revolta nem desespero.

***

Os filhos são quais jóias preciosas que o Criador nos confia a fim de que os ajudemos a burilar-se.

Não percamos a oportunidade de auxiliá-los no cultivo das mais nobres virtudes. Assim, quando tivermos que devolvê-los a Deus, que possam estar ainda mais belos e mais valiosos.”

sábado, 21 de agosto de 2010

Angústia Materna

Texto extraído do livro Atravessando a Rua, escrito por Richard Simonetti. 1ª Ed. Editora IDE, 1995, páginas 36-39.

“- Estou desesperada! Meu filho morreu num estúpido acidente! É tão grande a minha dor que tenho vontade de morrer! Por que, meu Deus? Por quê?! Uma vida interrompida cruelmente! Mal começara a existência!...
Clara, jovem senhora que atendia no plantão de entrevistas e encaminhamento à assistência espiritual, contemplou a mulher atormentada que tinha à sua frente, aguardou que extravasasse as mágoas, em meio a copioso pranto, e lhe disse bondosa:
- Dona Arminda, não se entregue ao desalento... Nada acontece por acaso. Razões ponderáveis, inascessíveis ao nosso entendimento, determinaram que o menino regressasse ao Plano Espiritual.
- Não me conformo! Não aceito perdê-lo tão cedo. Tinha apenas treze anos!... Era praticamente uma criança!...
- É preciso corrigir nossos raciocínios. A senhora não o perdeu. Ele apenas transferiu-se de residência...
- Tal idéia não significa nada. Não posso vê-lo! É como se não existisse!...
- Engano seu. Enquanto houver amor nossos afetos estarão conosco. Viverão em nossa lembrança... Recorde os dias felizes de sua convivência e considere que, em Espírito, ele virá, mais tarde, visitá-la. Se preparar o coração, libertando-o de sentimentos negativos, poderá senti-lo junto de si, nas emoções de terna saudade, plena de felizes recordações...
A infeliz mãe fez uma pausa no pranto copioso e, ansiosa, perguntou:
- Por que ocorrem semelhantes tragédias?
- Há Espíritos que vêm para experiência breve. Não raro, faz parte de seu planejamento sensibilizar os pais, renovando-lhes as disposições, ajudando-os a superar as ilusões do Mundo. Talvez a senhora nunca se interessasse por tais questões, não fosse a mágoa que a motiva. Posso dizer-lhe, sem medo de errar, que a Doutrina Espírita lhe oferecerá uma nova visão da vida, permitindo-lhe caminhar com mais segurança. Temos nela o Consolador prometido por Jesus, uma Benção Divina, que nos explica os porquês da existência, demonstrando-nos que não estamos entregues à própria sorte. Deus vela por nós e nos conduz a glorioso destino.
A visitante reiniciara o fluxo de lágrimas. Clara procura animá-la, desviando o rumo de seus pensamentos:
- Tem outros filhos?
- Sim, mais três...
- E o marido?
- Sofre muito. Era extremamente ligado ao menino. Mas é mais forte, vem reagindo... Eu é que não me conformo! Não me conformo!...
- É preciso seguir em frente, tornar à normalidade. A Vida continua. Sua família precisa de seu bom ânimo. Coragem! A tempestade passará!
- Não consigo! Só quem perdeu um filho sabe o quanto isto dói. Perdoe-me se lhe pareço indelicada, mas é fácil falar em coragem, serenidade, bom ânimo, disposição de lutar, quando tudo corre bem...
- A senhora tem razão. Nossa crença é tranqüila quando nos demoramos entre flores. Conservá-la em meio aos espinhos é um teste terrível. Sei bem o que isto significa, porquanto passei por experiência semelhante a sua...
Enxugando lágrimas discretas, Clara completa:
- Meu esposo e dois filhos, toda minha família, jóias da minha vida, faleceram há dois anos, num desastre de avião...

***

O desencarne de afetos caros ao nosso coração, em ocorrências trágicas, situa-se como provação das mais dolorosas. Mas há um sofrimento maior: a inconformação, quando estagiamos em voluntário pesadelo, recusando-nos a regressar à normalidade.
Para preservarmos a própria integridade é indispensável que não nos percamos em interminável questionamento, como se pedíssemos contas ao Céu.
Em nenhuma outra circunstância se faz mais imperiosa a confiança em Deus e a submissão a Sua Vontade, considerando que o Senhor sabe o que faz.”

domingo, 15 de agosto de 2010

E agora?

Photo Credit Dan Queiroz

Saí do hospital, voltei para casa, o armário vazio. O olhar vazio. Quando se tem uma irmã como a minha é difícil não rir da própria desgraça. Ela até fez piadinha com a faixa que comprimia os meus seios para que o leite secasse: - Esta é uma faixinha a prova de balas, disse ela, em um de seus inúmeros momentos de irreverência. Só me restava rir. Nos dias seguintes, recebi telefonemas de amigos que só sabiam que Guilherme havia nascido, o e-mail semanal do site do Bebê, me informando sobre como estaria o desenvolvimento do bebê na trigésima semana de gestação. Os contatos dos amigos que não sabiam de nada, e perguntavam: - E aí, como está o barrigão? Os telefonemas daqueles que sabiam de tudo o que havia acontecido e queriam nos consolar. Sem contar os atos falhos, como o meu marido responder a um pedido meu com a seguinte frase: - Isso só podia ser coisa de grávida... E a sensação de acordar pela manhã e achar que tudo não havia passado de um pesadelo. Mas havia pela frente quatro longos meses, que pra mim mais pareciam uma eternidade, do que a licença maternidade, até que eu pudesse retornar ao trabalho. Eu perguntei a minha Médica se esse tempo era necessário, ao que ela respondeu afirmativamente. E logo percebi a importância deste período para que eu pudesse iniciar a minha recuperação tanto física quanto psicológica. Neste período senti necessidade de vasculhar o passado para verificar se eu não havia feito algo errado para causar o sofrimento do Guilherme durante a gestação e causado o parto prematuro. Pensei em tudo que havia feito, bebido, comido, pensado, falado... Se havia feito tudo que a Médica pediu, se não havia exagerado nos exercícios. E fazia isto o tempo todo. Senti necessidade de isolamento. Não tinha muita vontade de sair e visitar as pessoas, com o tempo este sentimento foi se dissipando. Senti dificuldade de concentração e falhas de memória. Tive muita dificuldade para ler, tinha que reler duas ou três vezes um mesmo parágrafo para compreender. Também experimentei pequenos lapsos de memória referentes a coisas do meu cotidiano profissional como simples formulas matemáticas. Senti tristeza, incompreensão, solidão e uma incrível sensação de estar no lugar errado, na hora errada. Senti vontade de que tudo não tivesse passado de um pesadelo. Entretanto, o que eu mais queria é que tudo voltasse ao normal. Mas eu perdi as referências sobre o que é a normalidade. Pois normal seria a continuidade da gravidez, e não a sua interrupção. Quem é que gosta de ser mais uma ocorrência nas análises estatísticas? A sensação de estar no lugar errado, na hora errada é constante. O sentimento de inadequação, a procura pelo erro, a procura pelo motivo, eram inevitáveis. Mesmo que eu pudesse culpar alguém pela morte do Guilherme, não seria suficiente. A sensação é de que se está num pesadelo angustiante, que se espera que acabe logo, mas ele não acaba. Com o tempo eu acabei aprendendo a conviver com este pesadelo. Sentia que para as pessoas a minha volta tudo já estava bem, que todos já haviam esquecido  o que aconteceu e que eles acreditavam que eu me sentia da mesma forma. Mas não, às vezes um pequeno detalhe, era capaz de me fazer reviver tudo novamente. Só que eu sabia que ficar envolvida nestes sentimentos não era saudável pro Guilherme (1), pra mim e pra minha família. Então apesar de conviver com estes sentimentos não podia me entregar a eles, e por isto tentei aproveitar este período para cuidar da saúde. Também ocorreram coisas boas, como os cafés da manhã com a minha vizinha Malu, a companhia das minhas irmãs, as Olimpíadas de Pequim. Os telefonemas daqueles que se preocupavam em conversar comigo sobre coisas do cotidiano ao invés de dar conselhos ou opiniões. Logo que foi possível voltei a caminhar pela vizinhança. Me matriculei em um curso de pintura decorativa em caixas de madeira. Ganhei a companhia da Jolie (meu cãozinho da guarda) e fiz novos amigos como a Luisa e o Gabriel. Consultei com outros médicos e fiz uma série de exames. Dei início a minha terapia. E como já contei, comecei a escrever meu diário.

NOTAS

“(...) Na verdade, toda perda gera luto. É natural um período de sofrimento, mas a persistência no estado de desânimo deve merecer atenção (...). Processos de perda implicam em dor, cuja intensidade e duração vão depender do investimento que o indivíduo faça ou tenha feito relativamente ao que tenha perdido.
A duração do período de luto por morte ou desencarnação de uma pessoa querida varia de um para outro indivíduo, mas os pesquisadores dessa área identificam o horizonte de um ano. Embora esse período não seja regra geral, ele se constituiu no tempo de que teoricamente a pessoa atravessa datas emocionalmente significativas, marcantes, como o primeiro aniversário, o primeiro Natal, a primeira Páscoa, e assim por diante, sem a presença da pessoa que partiu. (...)”

Trecho de citação contida no livro digital Anjos - Somos todos candidatos, escrito e compilado por Anabela Sabino, a partir de aprofundado estudo de inúmeras obras da Doutrina Espírita, no caítulo dedicado ao tema morte, onde estão reunidos inúmeros textos úteis para a compreensão deste fenômeno.

(1) “(...) Mães, sabei que vossos filhos bem-amados estão perto de vós; sim, estão muito perto; seus corpos fluídicos vos envolvem, seus pensamentos vos protegem, a lembrança que deles guardais os transporta de alegria, mas também as vossas dores desarrazoadas os afligem, porque denotam falta de fé e exprimem uma revolta contra a vontade de Deus. (...)”

Trecho extraído do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. V –Bem aventurados os aflitos -  Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras.

Questão n° 936 de O Livro dos Espíritos, Como as dores inconsoláveis dos encarnados afetam os Espíritos que partiram?
– O Espírito é sensível à lembrança e aos lamentos daqueles que amou, mas uma dor incessante e irracional o afeta dolorosamente, porque vê nessa dor excessiva uma falta de fé no futuro e de confiança em Deus e um obstáculo ao adiantamento dos que choram e, talvez, ao reencontro entre todos.
Estando o Espírito mais feliz no espaço do que na Terra, lamentar que tenha deixado esta vida é lamentar que seja feliz. Dois amigos são prisioneiros e estão encerrados na mesma cela; tanto um quanto o outro devem obter um dia a liberdade, mas um deles a obtém antes. Seria caridoso, para aquele que fica, sentir-se infeliz por seu amigo ter sido libertado antes dele? Não seria mais egoísmo do que afeição de sua parte querer que o outro compartilhasse do seu cativeiro e sofrimentos por tanto tempo quanto ele? O mesmo acontece com dois seres que se amam na Terra; aquele que parte primeiro é o primeiro a se libertar, e nós devemos felicitá-lo por isso, aguardando com paciência o momento em que lá estaremos por nossa vez.
Faremos, sobre este assunto, uma outra comparação. Tendes um amigo numa situação muito lastimável, sua saúde ou seu interesse exige que vá a um outro país onde ficará melhor sob todos os aspectos. Não estará mais perto de vós momentaneamente, mas sempre estareis em comunicação com ele: a separação será apenas material. Ficaríeis descontentes com seu afastamento, ainda que seja para seu bem?
Pelas provas evidentes que apresenta da vida futura, da presença ao nosso redor daqueles que amamos e da continuidade de sua afeição e dedicação por nós, pelas relações que nos permitem ter com eles, a Doutrina Espírita nos oferece uma suprema consolação para uma das causas mais legítimas da dor. Com o Espiritismo não há mais solidão, não há mais abandono; o homem mais isolado tem sempre amigos perto de si com os quais pode se comunicar.
Suportamos impacientemente as aflições da vida, e elas nos parecem tão intoleráveis que julgamos não poder suportá-las; entretanto, se as suportarmos com coragem, se soubermos silenciar nossos lamentos, ficaremos felizes com isso quando estivermos fora desta prisão terrestre, como o paciente que sofre fica feliz quando é curado, por ter se submetido a um tratamento doloroso.

Trecho extraído de O Livro dos Espíritos, questões nº 934 a 936, Parte IV, Cap. 1 - Penalidades e prazeres terenos. Perda de pessoas amadas.

Trenho da entrevista feita a Regina de Agostini que ministrou a palestra Perda de Entes Queridos:

"(...) Pergunta nº 08: Como podemos nos relacionar com os entes queridos que se foram sem causar-lhes perturbações?
Com lembranças amorosas, sem revolta, buscando lembrar daqueles a quem amamos nos momentos de alegria, de pacificação. A lembrança significa que existe amor e o amor jamais prejudicou ou desequilibrou a alguém.

Pergunta nº 09: Podemos prejudicar aquele que desencarnou pela dor da perda, desequilibrando-o?
O pensamento mórbido, a revolta, a inconformação, a idéia fixa são as formas que poderiam prejudicar e desequilibrar o desencarnado. Não estamos proibidos de sentir a dor da perda, que é real, que dói. Não estamos proibidos de chorar a perda de um familiar, de um pai, de uma mãe, de um filho. Na vasta literatura espírita sobre o assunto, nas mensagens recebidas mediunicamente daqueles que desencarnaram é comum estes rogarem a nós que aqui ficamos a paciência, a resignação e a conformação e que busquemos aliviar a nossa dor para que ela possa se transformar num sentimento que edifica. Não permitamos que a saudade se converta em motivo de angústia e opressão, pois estes sentimentos são os que prejudicam a aquele que desencarnou. (...)"

sábado, 14 de agosto de 2010

E ele se foi

Photo Credit: Abcdz2000

O Guilherme não chegou a completar um dia de vida. Ele se foi, sem que pudéssemos fazer nada. Após a notícia fez-se um longo silêncio, criou-se um grande vazio. Ainda não existe uma palavra pra expressar exatamente o que senti neste momento. Aprendi muito rapidamente que por mais que eu quisesse, não tinha o menor controle sobre a vida do meu filho. Tenho certeza de que tudo o que acontece é para o nosso bem (1), mesmo que a gente não compreenda na hora, mas não é fácil sentir isto no momento da perda de um ente querido. Ele passou por inúmeros procedimentos, mas seu pulmão não resistiu. A pediatra disse que se ele tivesse sobrevivido, não teria a menor idéia dos danos que a parada respiratória teria causado em seu cérebro. Apesar da minha dor, naquele momento eu não queria que ele sofresse mais. Eu pensei em seu alívio, em sua libertação. Parece bem cruel a pediatra ter descrito tudo o que se passou, mas para mim facilitou muito a nossa despedida. Nós o vimos, logo em seguida, mas não quis pegá-lo no colo. Ele não estava mais ali (2). Ele não era mais meu. Se um dia me perguntarem qual foi dia mais feliz e o mais triste da minha vida, eu direi que foi o mesmo. Deste momento em diante, tudo foi mecânico, ainda tive que ficar no hospital, e o seu sepultamento ocorreu só dois dias depois, após todos os trâmites serem cumpridos: o seu registro de nascimento e o seu registro de óbito. Mas confesso que um filme de tudo que aconteceu não parava de rodar na minha mente e a única coisa que eu procurava era o que eu tinha feito de errado. É inevitável o sentimento de culpa e de fracasso. Foram horas intermináveis até o momento em que pude sair do hospital. Fui ao cemitério acompanhar o seu sepultamento (3), mas com a principal intenção de estar ao lado do meu marido. Nossa família e alguns amigos também foram até lá, e logo tudo estava encerrado. Ainda meu marido teria mais uma difícil tarefa, a de retirar todas as coisas do Guilherme de nosso apartamento. Eu sei que deveria doar todas as coisas, mas eu não quis, então elas foram guardadas na casa dos meus sogros. Eu quis guardá-las porque tudo foi feito, comprado ou presenteado com muito carinho, e eram dele, mesmo que ele não fosse usá-las. Enfim, ele não ficou conosco porque não era o melhor pra ele. Cada ser tem sua missão (4) a cumprir e o Guilherme a cumpriu muito rapidamente, muito embora eu ainda o tenha sentido perto de mim por muito tempo. Eu acredito na continuidade da vida após a morte, na reencarnação (5) e na lei de causa e efeito (6). Basicamente isto significa que o espírito, alma, ou ser intelectual, não é destruído com a morte do corpo físico, que é possível renascer tantas vezes quanto forem necessárias para a evolução do espírito e que não existe efeito sem antes ter havido uma causa que é uma lei natural. Disto decorre que eu acredito que o Guilherme está vivo, se preparando para um novo recomeço e que o que nos aconteceu teve uma causa no passado, pois nada acontece por acaso. Esta compreensão foi fundamental para que eu conseguisse caminhar depois da notícia da morte do Guilherme. Cada religião tem uma palavra de consolo para dar aquele que perde um ente querido, e certamente cada pessoa encontrará o argumento que mais lhe acalmar o coração. Eu sinto conforto em crer que o Guilherme vive, que foi amparado por espíritos amigos, e que esta experiência lhe foi útil e necessária para o seu aprimoramento. Tenho ainda a certeza de podermos nos encontrar no futuro, ou nos sonhos. Para nós como pais também foi uma experiência necessária, apesar de neste momento não nos ser permitido compreender todos os aspectos relativos a esta experiência, devido ao esquecimento do passado (7). Creio também que cada ser tem uma programação a ser cumprida e que o acaso, sorte ou azar (8), não existem, mas sim um complexo conjunto de necessidades para a evolução de cada ser.

Mais alguns esclarecimentos:
Para que seja possível compreender como cheguei a todas estas conclusões imediatamente após a morte do Guilherme, e que foram reunidas neste post, é necessário que eu apresente alguns conceitos da Doutrina Espírita nos quais eu acredito e que permitiram que eu tivesse este entendimento sobre a vida após a morte do corpo físico. Eu me baseei nos livros da Codificação Espírita: “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho Segundo o Evangelho Segundo o Espiritismo”. Mas existe uma vasta bibliografia que pode ser consultada para tirar dúvidas e conhecer melhor estes conteúdos, se você se interessar.

Princípios básicos da Doutrina Espírita
- A existência de Deus
- A existência e sobrevivência do espírito após a morte do corpo físico
- A pluralidade das existências - Reencarnação
- A pluralidade dos mundos habitados
- A comunicabilidade dos espíritos

Questão n°1 de O Livro dos Espíritos: Que é Deus?
Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Criou tudo o que há. É o único princípio não criado. Sempre existiu.

NOTAS
(1) “(...) Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque o reino dos céus é para eles. (...)” (São Mateus, cap. V, v. 4, 6 e 10).

Trecho extraído de O Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. V – Bem-aventurados os aflitos

(2) Questão n° 153 de O Livro dos Espíritos: Em que sentido se deve entender a vida eterna?
É a vida do Espírito que é eterna; porém, a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retorna à vida eterna.
Trecho extraído de O Livro dos Espíritos, questões n° 149 a 153, Parte II Cap. 3 – Retorno da vida corporal à vida espiritual. A alma após a morte. 

(3) De acordo com Joana de Angelis, (...) os funerais, cerimônias e ritos fúnebres são valiosos para os familiares, parentes e amigos como forma de despedida, enquanto que para o Espírito, valem mesmo, o sentimento, as preces e vibrações de amor (...).

Trecho extraído do livro Autodescobrimento – uma busca interior, ditado pelo espírito Joana de Angelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco, 16ª Ed., Liv. Espírita Alvorada, 1995.

(4) Programação Reencarnatória

Questão n°258 Na espiritualidade, antes de começar uma nova existência corporal, o Espírito tem consciência e previsão das coisas que acontecerão durante sua vida?
– Ele mesmo escolhe o gênero de provas que quer passar. Nisso consiste seu livre-arbítrio.

Questão n°258 a Então não é Deus que impõe os sofrimentos da vida como castigo?
– Nada acontece sem a permissão de Deus, que estabeleceu todas as leis que regem o universo. Perguntareis, então, por que Ele fez esta lei em vez daquela. Ao dar ao Espírito a liberdade de escolha, deixa-lhe toda a responsabilidade de seus atos e de suas conseqüências, nada impede seu futuro; o caminho do bem está à frente dele, assim como o do mal. Mas, se fracassa, resta-lhe uma consolação: nem tudo está acabado para ele. Deus, em sua bondade, deixa-o livre para recomeçar, reparando o que fez de mal. É preciso, aliás, distinguir o que é obra da vontade de Deus e o que é obra do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós que o criastes, foi Deus; mas tendes a liberdade de vos expor a ele, por terdes visto aí um meio de adiantamento, e Deus o permitiu.

Questão nº259 Se o Espírito tem a escolha do gênero de prova que deve passar, todas as dificuldades que experimentamos na vida foram previstas e escolhidas por nós?
– Todas não é a palavra, porque não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo que vos acontece neste mundo, até nas menores coisas. Vós escolhestes os gêneros das provas; os detalhes são conseqüência da situação em que viveis e, freqüentemente, de vossas próprias ações. Se o Espírito quis nascer entre criminosos, por exemplo, sabia dos riscos a que se exporia, mas não tinha conhecimento dos atos que viria a praticar; esses atos são efeito de sua vontade ou de seu livre-arbítrio. O Espírito sabe que, ao escolher um caminho, terá uma luta a suportar; sabe a natureza e a diversidade das coisas que enfrentará, mas não sabe quais os acontecimentos que o aguardam. Os detalhes dos acontecimentos nascem das circunstâncias e da força das coisas. Somente os grandes acontecimentos que influem na vida estão previstos. Se seguis um caminho cheio de sulcos profundos, sabeis que deveis tomar grandes precauções, porque tendes a probabilidade de cair, mas não sabeis em qual deles caireis; pode ser que a queda não aconteça, se fordes prudente o bastante. Se, ao passar na rua, uma telha cai na vossa cabeça, não acrediteis que estava escrito, como se diz vulgarmente.

Trecho extraído de O Livro dos Espíritos, questões n° 258 a 273, Parte II, Cap. 6 – Vida Espírita. Escolha das provas.

(5) Reencarnação

“(...) Todo Espírito está destinado à perfeição, e como não poderia atingi-la numa só vida, Deus concede-lhe outras existências, para que possa crescer em inteligência e moralidade. O renascimento sucessivo do Espírito na dimensão material é chamado reencarnação.(...)”
“(...) A reencarnação é a chave que explica a Justiça e a Misericórdia de Deus. Através dela, todas as aparentes injustiças podem ser compreendidas. Todos os erros podem ser redimidos por meio de novas experiências e os Espíritos, cedo ou tarde, encontram o caminho do Bem.(...)”
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 “... Poucos imaginarão que seja o carbono, o carbono comum, esse que nós utilizamos como grafite para escrever, o mesmo que se faz diamante depois, submetido a pressões agigantadas no coração tépido do planeta.
Vemos que tudo que é matéria se transforma. Tudo morre, transforma-se, para reaparecer em novas expressões. O carbono, que vira grafite, que vira diamante. Ora, é muito bonito pensar na morte com este olhar...”
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(6) Lei de causa e efeito

“(...) O Criador concede a seus filhos o livre arbítrio, ou seja, a liberdade de agirem como bem entenderem. Porém, todas essas ações estão sujeitas a uma lei natural de justiça, chamada de "causa e efeito", "ação e reação" ou "plantio e colheita". É por meio desta lei que somos responsáveis por tudo quanto fazemos ao próximo ou ao nosso próprio Espírito.
O princípio de causa e efeito não foi criado pelo Espiritismo. Ele é uma das leis da Física promulgada pelo sábio Isaac Newton, que tem o seguinte enunciado:
"A toda ação realizada num determinado sentido, corresponderá uma reação de mesma intensidade e direção oposta".
Muitos sofrimentos de pessoas ou povos que se observam na atualidade, são perfeitamente explicados pelo mecanismo da ação e reação da Lei de Deus. Obras más, de encarnações passadas neste ou noutros mundos, provocam colheitas desagradáveis na presente existência. Do mesmo modo, se o Bem for objeto de preocupação das criaturas, o futuro guardará para elas uma situação de paz, satisfação e felicidade.(...)”
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(7) Esquecimento passado

“(...) Em vão se objeta que o esquecimento constitui obstáculo a que se possa aproveitar da experiência de vidas anteriores. havendo Deus entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança traria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos singularmente, ou, então, exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável perturbação nas relações sociais. (...)”

Trecho extraído do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V – Bem aventurados os aflitos – Esquecimento do Passado.

Para saber mais, leia as questões de número 392 a 399 de O Livro dos Espíritos que tratam sobre o esquecimento do passado.

(8) Fatalidade

Questão n°851 Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme o sentido que se dá a essa palavra, ou seja, todos os acontecimentos são predeterminados? Nesse caso, como fica o livre-arbítrio?
– A fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito fez ao encarnar e suportar esta ou aquela prova. E da escolha resulta uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição que ele próprio escolheu e em que se acha. Falo das provas de natureza física, porque, quanto às de natureza moral e às tentações, o Espírito, ao conservar seu livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor para ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, ao lhe mostrar de forma exagerada um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo. Porém, a vontade do Espírito encarnado está constantemente livre para decidir.
Questão nº853 Algumas pessoas mal escapam de um perigo mortal para logo cair em outro; parece que não teriam como escapar à morte. Não há fatalidade nisso?
– A fatalidade só existe, no verdadeiro sentido da palavra, apenas no instante da morte. Quando esse momento chega, seja por um meio ou por outro, não o podeis evitar.


Trecho extraído de O Livro dos Epíritos, questões n° 851 a 867, Parte III, Cap. 10 – Lei de Liberdade. Fatalidade.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Como tudo começou


Photo Credit: Lusi

Depois de um longo namoro, um casamento muito comemorado, conclui-se que o próximo passo era ter um filho. Eu já sabia que poderia ser difícil, mas bastou deixar de tomar o anticoncepcional, logo no próximo mês pude dizer a frase tão desejada: Vamos ter um filho! A alegria foi imensa e compartilhada por todos que tomavam conhecimento da novidade. Enjôos, mal-estar, e outros transtornos característicos da gravidez não se manifestaram, continuei cumprindo todas as atividades diárias. Trabalhava, dava aulas de informática em um projeto de voluntariado e fazia aulas de dança. Desejo: Suco de pêssego. A felicidade era tanta, que a cada roupinha eu imaginava quando e como o bebê a utilizaria. A cada local novo que visitava, imaginava como seria quando retornasse com ele no colo. Lia sobre como o pensamento positivo poderia influenciar nas características do bebê que ainda estava em formação (1). Me cadastrei em um site que trata sobre a relação mamãe e bebê, para receber semanalmente informações sobre o desenvolvimento do bebê a medida que cada semana ia se passando. Como nos divertíamos ao fazer o exame de ecografia: vi o Meu Bem calado pela primeira vez na vida. Ele que normalmente fala muito, ficou sem palavras quando via o bebê e seu coraçãozinho pulsando no monitor. Compramos várias roupinhas, sapatinhos, e fizemos muitos planos. Tivemos um pequeno susto na décima segunda semana de gestação, tive um pequeno sangramento, decorrente de um descolamento da placenta, depois de duas semanas de repouso já estava tudo bem. Depois descobrimos que o bebê era um menino, ele já tinha um nome: Guilherme. E se passaram as semanas. Lá pela vigésima segunda semana detectou-se uma alteração na minha pressão arterial, fui medicada, mas não me dei conta de toda a dificuldade que poderia decorrer deste quadro clínico. Na vigésima oitava semana uma ecografia detectou que o Guilherme não estava recebendo todos os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento, devido ao aumento da minha pressão arterial. A partir deste dia também fiquei em repouso, fui alertada que provavelmente o Guilherme deveria nascer antes do período previsto, mas que o repouso e a medicação poderia alterar o quadro que ele apresentava naquele dia. Entretanto, sai do exame com a recomendação de que ao sentir uma forte dor de cabeça deveria ir para o hospital imediatamente. Fui pra casa e segui todas as recomendações. Naquela mesma semana pedi para a minha cunhada e a minha sogra me levarem ao hospital, pois estava sentindo uma dor de cabeça muito forte. No hospital me examinaram, escutaram o coração do Guilherme e o médico disse que estava tudo bem. No domingo, mais uma vez fui ao hospital, por causa da pressão, mas chegando lá o médico fez a mesma avaliação e me encaminhou para casa. Na semana seguinte quando fiz mais uma ecografia, a médica verificou que o quadro do Guilherme havia piorado muito, e me disse que ele teria muito mais chances de sobreviver “do lado de fora”. Pois na Unidade de Tratamento Intensivo Neo-natal (UTIN) ele teria melhores condições do que permanecendo no meu ventre. No sábado pela manhã, com quase 30 semanas de gestação, o Guilherme nasceu. Ele chorou. Foi o som mais lindo que eu já ouvi... Ele foi logo encaminhado para a UTIN, o pai dele o viu, tirou fotos. Eu só pude vê-lo lá pelas três horas da tarde, ele era lindo, os cabelos começando a formar cachinhos, neste momento eu conversei com ele, contei todos os meus planos, o toquei, disse o quanto ele era bem vindo. A médica me disse o quanto ele era vulnerável e quanto a sua situação era delicada, mas eu não dei a mínima pra ela. Passei não sei quanto tempo ali na UTIN conversando com ele, até me sentir tonta e então pedi para voltar para o quarto. Logo mais à noite teríamos outra oportunidade de nos encontrar. Ficamos aguardando para vê-lo, eu e meu marido, mas não pudemos mais vê-lo com vida.

Referência Bibliográfica
(1) Para uma vida melhor – Orientação às Gestantes – Ordem Rosa Cruz da Criança, AMORC, 3ª Ed.

domingo, 8 de agosto de 2010

Canteiro dos sonhos desforrados

Poesia de autoria de Sairalume.

"Em um canto mavioso me perdi...
Doce sina na penumbra tão silente
E num gesto apoucado renasci...
Nos braços de uma aurora incandescente!

Desforrada, fiz poemas imanentes
Em palavras destemidas por fadário
Minhas mãos trazem calos inerentes
De um amor que se mostrou nefário ...

Laboriosa, minha´alma assentiu
Sangrado desejo de quem sonha!
Entre nuvens que bailam em desvario
Flutuam as noites poéticas de minhas insônias.

Inundada em letras, recobri o meu sossego!
Canteiros onde lírios trazem os sonhos
Canto aos cravos, não mais pelejo!
E caçoou do silêncio amedrontado e tristonho..."

 ***

Fiquei comovida com esta poesia pois ela fala sobre o aconchego que as palavras podem proporcionar, e como os textos que vão se delineando se tornam nossos companheiros.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Mas que nome eu dou?!

Photo Credit: Juliana Coutinho

Para transformar meu diário neste blog, utilizei como apoio o texto Bê-a-Blog. Uma das dicas é sobre a escolha do nome. Eu não tive dúvidas e a minha primeira opção foi: exgravidaouquasemae.
Pensando mais um pouco, encontrei outra opção: reconstruindo. Com a  primeira escolha acreditei que ficava explícito o meu drama pessoal, ou seja, o sentimento de perda, de inadequação, de ciclo inacabado, ou melhor, prematuramente acabado. Muitos outros substantivos surgiram, mas nenhum foi capaz de nominar o meu estado de espírito: ex-grávida, quase mãe, ou o quê? Com a segunda escolha pensei em transmitir a vontade de juntar tudo o que sobrou de mim e recomeçar, tentando reorganizar a vida modificada pela experiência da perda. Como ainda estava em dúvida, passei a aplicar outra dica existente no manual, que é definir uma periodicidade para publicação dos textos e ter sempre alguns preparados, para eventuais momentos em que não seja possível escrever. Então comecei a compilar o meu diário e transformá-lo em posts. Levei tão a sério esta dica que escrevi quase um ano de textos antes de seu lançamento. A princípio isto parece ruim, mas não foi. Eu tive tempo para pensar sobre tudo que escrevi, tive a oportunidade de ver a opinião de pessoas sobre os meus textos, e assim complementá-los. Tive condições de relê-los em diferentes momentos avaliar a minha mudança de comportamento em relação a alguns temas, além de conhecer outras histórias que “misteriosamente” chegaram até as minhas mãos. Neste meio tempo, o comentário da minha colega psicóloga Anabela, veio aumentar a polêmica sobre o nome do Blog. Ela argumentou que toda mulher que já esteve grávida é uma ex-grávida e que toda grávida já é mãe, então ninguém pode ser quase mãe. Finalmente, acrescentou que toda mulher que já foi mãe um dia, nunca vai deixar de ser. Continuei a pensar em um nome apropriado e percebi que eu não encontrava um nome capaz de expressar o meu estado de espírito. E durante esta busca comecei a perceber o quanto eu valorizava a minha perda e o meu sofrimento. Então resolvi me perguntar se esta importância era justa, em relação aos demais aspectos da minha vida e a resposta foi surpreendente: eu dei à minha dor uma importância desproporcional em relação ao amor que sinto pelo Guilherme, pelos demais membros da minha família e pelos meus projetos de vida. Percebi que dedicava muito mais tempo e energia à minha dor do que deveria. Essa dor me fez chegar até aqui, me fez capaz de refletir sobre mim mesma e os meus relacionamentos. Mas deste ponto em diante eu tenho que seguir sozinha, na minha própria companhia. Depois de todas estas reflexões, tive vontade de dar outro nome pro blog, um mais abrangente, em que eu pudesse falar também sobre todos os outros temas que fazem parte da minha vida, e que foram reocupando seu espaço aos poucos. Daí surgiu a vontade de chamá-lo de colcha de retalhos, que representa bem a minha vida, cheia de retalhos costurados a mão, e trazidos um a um, por mim, pelos meus amigos, e que vão montando um grande patchwork, tão variado em cores, formas e tamanhos como só eu sei ser e como cada um sabe ser, um grande conjunto de pequenos pedaços, unidos e reunidos pouco a pouco. Mas, este nome já vem sendo amplamente utilizado, segundo a minha amiga Beatriz, que me ajudou a fazer uma pesquisa. Então, finalmente resolvi chamá-lo de canteiro de sonhos, que retrata bem o meu objetivo final que é semear a esperança e a certeza de um futuro melhor, que vai se desenvolvendo lentamente, crescendo sempre.