domingo, 27 de fevereiro de 2011

A partida do Guilherme x a ausência do Bebê

Photo Credit: Cobrasoft


O texto Nascimentos de natimortos e as reações despertadas nos profissionais de Clínicas Obstétricas, escrito por Michelle Cristina da Silveira, aborda os temas morte, gravidez, luto, relações entre médico e paciente e as reações da equipe médica à morte fetal. Um texto muito esclarecedor que me ajudou a entender várias questões! Vale a pena lê-lo na íntegra. 
Eu sempre achei intrigante o fato de que sinto duas dores distintas: a primeira é a decorrente da partida do Guilherme, enquanto que a outra é decorrente da ausência do Bebê. Chega a soar engraçado, mas é assim mesmo. A primeira dor, é minimizada quando penso na continuidade da vida após a morte, na programação reencarnatória de cada ser, na Lei de Ação e Reação, e também me consola a certeza do reencontro. Agora a dor devido a ausência do Bebê, até hoje é mais difícil de minimizar. Com o passar do tempo esta dor diminuiu, e hoje eu sou capaz de tocar um bebê, mas segurá-lo no colo, ainda é impossível, pois eu tenho medo de não querer mais devolvê-lo a sua mãe. Confesso que sei porque algumas mulheres roubam bebês. 
De acordo com o texto, “...O luto pelo bebê morto, muitas vezes se mistura com o luto da identidade de mãe que já estava sendo formada (QUAYLE, 1997)....” citado por Michelle. Com esta leitura eu pude compreender que quando o Guilherme faleceu eu também deixei de ser mãe, da forma convencional, ou como imaginava. Tudo o que eu havia planejado pra ele, minhas reflexões sobre como me comportar, o que ensinar, como educar, quais exemplos deveria dar pra que ele se tornasse uma pessoa boa, também se tornaram momentaneamente desnecessárias.  E o que fazer com toda esta preparação já que o Guilherme nos deixou tão rapidamente? É uma quantidade imensa de sentimentos, expectativas, planos que não tem para onde ir. Eu sempre senti culpa por sofrer com a ausência do bebê, pois tinha fé em Deus e o conhecimento dos princípios básicos da Doutrina Espírita, e acreditava que isto deveria bastar para o meu consolo, mas às vezes não bastava. O texto escrito por Michelle é libertador, me ajudou a compreender este sofrimento.
Agora eu sei que, ser uma boa mãe é parte de ser uma pessoa melhor a cada dia, e o fato de eu não poder exercer o meu papel de mãe naquele momento, não impede que eu o exerça no futuro. Além disso, também não impede que eu seja uma pessoa melhor a cada dia não só para um filho ou filha, mas para a família e a sociedade. 

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Questão 297 de O Livro dos Espíritos: A afeição que dois seres tiveram na Terra sempre continuará no mundo dos Espíritos?
– Sim, sem dúvida, se é fundada sobre uma simpatia verdadeira. Mas se as causas físicas foram maiores que a simpatia, ela cessa com a causa. As afeições entre os Espíritos são mais sólidas e mais duráveis do que as da Terra, porque não estão sujeitas aos caprichos dos interesses materiais e do amor-próprio.

Trecho extraído de O Livro dos Espíritos, Parte II, Cap. VI – Vida Espírita - Relações de simpatia e antipatia dos Espíritos. Metades eternas.
Questão 344 de O Livro dos Espíritos: Em que momento a alma se une ao corpo?
– A união começa na concepção, mas só se completa no instante do nascimento. No momento da concepção, o Espírito designado para habitar determinado corpo se liga a ele por um laço fluídico e vai aumentando essa ligação cada vez mais, até o instante do nascimento da criança. O grito que sai da criança anuncia que ela se encontra entre os vivos e servidores de Deus.

Trecho extraído de O Livro dos Espíritos, Parte II, Cap. 7 - Retorno à Vida Corporal - União da Alma ao Corpo. Aborto

Questão 890 de O Livro dos Espíritos: O amor materno é uma virtude ou um sentimento instintivo comum aos humanos e animais?
– Tanto um quanto outro. A natureza deu à mãe o amor pelos filhos no interesse de sua conservação; mas no animal esse amor está limitado às necessidades materiais e termina quando os cuidados tornam-se inúteis. No homem, ele persiste por toda a vida e comporta um devotamento e um desinteresse que são virtudes. Sobrevive até mesmo à morte e prossegue no mundo espiritual. Observai bem que há nele outra coisa a mais que no animal. (Veja as questões 205 e 385.)

Trecho extraído de O Livro dos Espíritos, Parte III, Cap. 11 - Lei de Justiça, Amor e Caridade - Amor maternal e filial.

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"(...) Obviamente, os efeitos da perda de um filho são diretamente proporcionais ao desejo da mãe em tê-lo e ao significado da maternidade para mesma, segundo KLAUS, KENNELL (1993), a intensidade do luto e tristeza após a perda precoce de um bebê está diretamente relacionada à qualidade do vínculo que foi formado durante a gestação. Partindo do pressuposto que o bebê era planejado, sonhado e até idealizado, quais seriam as possíveis reações dessa mãe ao ser abruptamente frustrada com a morte de seu filho?

Sabe-se que sentimentos como raiva, culpa e depressão são os mais comuns e previsíveis nesses casos (MALDONADO, 2000), porém, não sabemos ao certo, até por conta da subjetividade de cada um, as conseqüências dessa situação traumática.
Tais conseqüências podem ser arrastadas ao longo da vida, já que uma perda como esta pode afetar a relação da mãe com o(s) filho(s) mais velho(s), bem como impossibilitá-la emocionalmente de ter um outro filho (BOWLBY, 1998). (...)"
 Trecho extraído do texto Nascimentos de natimortos e as reações despertadas nos profissionais de Clínicas Obstétricas, escrito por Michelle Cristina da Silveira.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Fazendo as pazes

Photo Credit: Cornetta

Eu acabei deixando muitas pessoas para trás. As minhas amigas grávidas, e aquelas com seus bebês pequenos. Algumas eu retomei o contato aos poucos, por e-mail, mas não seu quando vou conseguir perguntar sobre seus filhos. Para a minha amiga Laila, no Natal, eu dei um cartão onde desejei que ela aproveitasse ao máximo o neto, desejei que ele estivesse muito bem e que ela soubesse que uma das melhores coisas da vida é ter avó. Depois disso, muito tempo depois, eu perguntei a ela se poderia responder uma questão apenas com SIM ou NÃO. Apesar da surpresa ela disse que estava combinado, então eu perguntei se o netinho dela estava bem? Ao que ela respondeu que sim, eu disse que bom, e a conversa se encerrou. Já com a Natália foi bem diferente, neste mesmo Natal ela me contou sobre sua gravidez, logicamente, o que me pegou de surpresa e me chateou muito. Um bom tempo depois, o Meu Bem me contou que o bebê deles nasceu prematuramente e também passou um tempo na UTIN, essa notícia acabou eliminando o meu mal-estar em relação a eles. Até uma foto com ela eu recoloquei na estante. Com a minha amiga Luiza já foi diferente, ela já está na quarta gravidez, sendo que duas delas não acabaram da forma como gostaríamos. Eu não consegui falar com ela, só escrevi dizendo que fiquei feliz em descobrir a novidade pelo Orkut, e fiquei mesmo! Espero que esteja tudo bem com eles. Agora a Letícia também está grávida, de uma menininha, eu consegui conversar com ela por e-mail, e foi bom. Recentemente descobri que a Paula está grávida, outra menina, uma irmãzinha para a Carol, esta notícia realmente me deixou muito feliz. Conversamos apenas por e-mail, uma conversa completa, com perguntas e respostas maduras. Foi muito bom, e eu fiquei com a sensação de que a experiência dela, de uma segunda gravidez, após a perda da Carol, vai me ajudar bastante quando a minha vez chegar. Um dos meus sonhos é fazer uma grande festa com todas essas amigas tão queridas e ser capaz de abraçá-las, pois eu sinto saudades.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Final feliz?

Photo Credit: Nighthawk7

Várias histórias foram contadas e em cada uma delas o caminho seguido foi diferente. O meu caso ainda não tem um final, quando houver, tenho certeza que será feliz. O final feliz é descobrir que a nossa felicidade só pode ser encontrada na superação de nós mesmos e não nos papéis que nos cabem cumprir: ser ou não mãe, gerar ou não um filho, não diz sobre o que somos, só retrata uma das várias possibilidades que temos. Além disso, nós podemos sempre assumir novos e diferentes papéis, só não devemos nos manter em um papel que já não é mais nosso. Acho que dá para comparar com um peça de teatro em cartaz. Ao final da temporada, os figurinos são devidamente guardados e todos os atores seguem em busca de novos papéis. Ninguém fica caracterizado de um personagem que já não está mais em cartaz. Geralmente, nós assumimos muitos papéis ao mesmo tempo, e não permanecemos como “aluno da Universidade” após a colação de grau. Também não permanecemos “doentes e de cama” após a doença já ter sido curada. A conquista desta felicidade decorrente da nossa própria superação também não é algo simples de se conseguir, exige vontade, coragem, força e muita perseverança. Às vezes é necessário descansar, assim como nas longas caminhadas, onde precisamos parar para repor as energias. Aqui também, às vezes precisamos respirar, dar uma volta, pensar sobre como chegamos até o presente momento, fazer uma oração, pedindo pela renovação de forças, e após esta pausa, continuar, na nossa busca pela superação de nós mesmos, e no cumprimento de todos os papéis que nos forem apresentados durante a vida. Então, sempre que necessário descanse e então recomece.