domingo, 3 de outubro de 2010

Só comigo?

Photo Credit: Raven3k

Já contei minha história muitas vezes, e nestas ocasiões, conheci várias outras. E cada nova história foi despertando a solidariedade e diminuindo a solidão. Conhecer outras experiências não reduziu a dor, mas permitiu que eu aprendesse a lidar melhor com ela. Tomei a liberdade de contá-las, resumidamente, pois considero que estas histórias se incorporaram a minha.
Começo pelas mulheres que lutam para ter seus filhos e se submetem a inúmeros tratamentos, na expectativa de alcançarem o sonho de ser mãe, entretanto, sem nenhuma garantia de sucesso, algumas conseguem e outras não. Outras ao mesmo tempo em que vencem um câncer perdem a possibilidade de gerar um filho. Algumas mulheres nem tem a chance de conhecer seus filhos vivos, e se vêem obrigadas a dar a luz um bebê sem vida. Outras vivenciam sucessivos abortos sem encontrar uma razão clínica para isto. Apesar de toda a dedicação mulheres perdem seus filhos depois de dias de seu nascimento. Outras criam seus filhos com as seqüelas da ausência de oxigenação do cérebro. Mulheres com gestação múltipla perdem um de seus filhos, ou todos.  E ainda tem aquelas que encontram seus filhos sem vida, no berço. Outras não tem a chance de chamá-los pelo nome (os outros o chamam apenas por feto, como se não fossem nada), como se já não fossem amados. Algumas mulheres tem seus filhos roubados. Outras vêem seus filhos serem consumidos pela doença, sem nada a fazer. Todo dia mulheres vêem seus filhos partirem por causa da violência, das drogas, do trânsito, do crime. Em alguns casos elas passam por estas experiências sozinhas, sem um companheiro para dividir o sofrimento. E cada uma delas com a sua dor, com a sua falta de ar, com a sua falta de tudo. Anônimas e famosas, ricas e pobres, independente de raça e religião, todas compartilham a dor da perda. Essas mulheres só contam suas histórias com o objetivo de tentar aplacar o sofrimento de outras. Não são histórias fáceis de contar, mas por um momento a sua própria dor fica de lado.

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