sábado, 28 de agosto de 2010

Perda pela morte

Texto extraído do livro Autodescobrimento: uma busca interior, ditado pelo espírito de Joana de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco, 16 Ed., 1995, páginas 132-133.

“(...) Profunda e dilaceradora é a aflição que decorre da perda de pessoas queridas, mediante o fenômeno da morte. Essa dor, no entanto, é decorrente, entre outros fatores, de atavismos psicológicos, filosóficos e religiosos, que não educaram o indivíduo a considerar natural, como o é, a ocorrência que faz parte do processo orgânico pelo qual a Vida se expressa.
A própria conceituação de morte como fim é frágil e insustentável, porque nada se aniquila, e os mortos não tem interrompido o fluxo existencial. Transferem-se de faixa vibratória, deslocam-se temporariamente, mas não se aniquilam. Continuam a viver, comunicam-se com aqueles que ficaram na Terra, estabelecem novos liames de intercâmbio, aguardam os afetos e recebem-nos, por sua vez, quando desencarnam.
Ademais, o próprio verbo perder, nessa conceituação, encontra-se totalmente deslocado. Pessoas não podem deixar de prosseguir, perdendo-se, no sentido de coisas que deixam os seus possuidores e desaparecem. Ninguém pertence a outrem, e somente se perde o que não se tem...
Assim, as dores acerbas, que acompanham a morte das pessoas queridas, possuem altas cargas de emoções desequilibradas que explodem extemporâneas, com caráter autopunitivo, não afetivo.
Às vezes, a pessoa não era atendida como merecia, enquanto no corpo e, ao morrer aqueles que se descobrem em falta, auto-supliciam-se, fazendo quadros de revolta, desespero e depressão. Noutras ocasiões, projeções de conflitos retidos espocam, gerando maior soma de desequilíbrios. Na maioria das oportunidades, no entanto, são os sentimentos naturais de saudade, de ausência, de ternura que ferem aqueles que ficam, martirizando-os.
É justo que se sofra a dor da separação, que se chore a ausência, que se interrogue em silêncio como se encontrará na nova situação o ser amado. O desespero, no entanto, não se justifica, por não equacionar, nem preencher o vazio que permanece.
Extravasar a dor mediante as recordações felizes, orvalhadas de lágrimas, reviver episódios marcantes com ternura, repartir os haveres com os necessitados em sua memória, envolvê-los em orações e crescer intimamente, são recursos valiosos para a liberação das mágoas decorrentes da morte.
Quase sempre se fazem interrogações ilógicas, nessas situações, como: Por que ele? Por que eu? Ora, todos são mortais, nos equipamentos orgânicos, e o número de óbitos é expressivo, cada vez alcançando este ou aquele indivíduo, ou alguém do seu grupo social.
Pela própria lei das probabilidades chega a vez de todos, um a um, ou coletivamente. É inevitável.
A dor da separação física prolonga-se por largo período de tempo. A princípio é traumatizadora, mostrando-se mais pungente com o transcorrer dos dias. No entanto, digerida pela esperança do reencontro, da comunicação, e graças ao afeto preservado, torna-se luarizada, suavizando-se e conservando somente os sinais da gratidão por se haver fruído da presença querida.
Evitar, pois, a depressão e seus males, ante a morte de alguém afeiçoado, é prova de amor por quem partiu e não pode ser culpado de haver viajado, sem consulta prévia ou anuência, conduzido pela Vida ao retorno às origens, para onde todos seguirão. (...)”

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