domingo, 29 de agosto de 2010

Culpa

Photo Credit: Sebarex


Revivi muitas vezes tudo o que aconteceu, sempre com o objetivo de encontrar respostas para os meus por quês. A cada repetição, eu avaliava diferentes detalhes e encontrava novas peças para solucionar o enigma. Enfim, cheguei a conclusão de que havia feito tudo o que foi solicitado pela minha Médica, e que fiz tudo o que poderia ter feito pelo Guilherme, mesmo que fosse muito pouco. Eu o amei muito e ainda amo. Um dia, em minha orações pedi perdão a ele se porventura houvesse feito alguma coisa que o prejudicou. Se fiz, foi sem querer, se fiz, foi por ignorância. Mas confesso que mesmo assim, foi inevitável pensar que poderia ter feito algumas coisas diferentes. Poderia ter engravidado mais cedo, poderia ter ido mais vezes ao Médico, poderia ter procurado um Cardiologista mais cedo, poderia ter sido uma gestante mais desconfiada e questionadora. Também poderia ter tomado as doses máximas de calmante que a Médica havia permitido, mas eu não tomei, pois só tomo remédios se realmente necessário. Poderia ter passado mais tempo com o Guilherme na UTIN. Eu era a maior responsável por ele. A repetição do filme só terminou quando me certifiquei de que não havia mais nenhum nicho a vasculhar, e conclui que fiz tudo o que estava ao meu alcance. Hoje em dia, rezo por ele, coloco seu nome na lista de Irradiação e procuro viver em equilíbrio.

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Na sequência, reuni alguns trechos de textos da literatura espírita que tratam sobre o sentimento de culpa.


“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”
Francisco Cândido Xavier

"(...) O  processo  do  culpismo  é  formado  por  três  atitudes: julgamento, condenação e  punição, que pode ser tanto de si mesmo, como dos outros. Diante de um ato equivocado que possa ter cometido, a pessoa se autojulga, considerando a ação errada, por isso se autocondena e, posteriormente, se autopune para sofrer as consequências  de  seu  erro. Em algumas pessoas, seguindo-se á autopunição, existe uma quarta  atitude que é de autopiedade, por se sentir uma coitada, sofrendo dolorosamente, sem  perdão.
A mesma coisa fazemos com os erros dos outros: os julgamos, condenamos e punimos. (...) Quem se culpa não assume a responsabilidade pela condução da sua vida. Constitui-se, num nível profundo, um movimento de fuga. É mais fácil sofrer e se sentir um coitado, do que tomar nas mãos a responsabilidade por contruir a própria felicidade, pois isto só acontece com esforço pessoal. (...)
Para nos libertarmos, tanto da culpa, quanto da desculpa, necessitamos cultivar o processo da ação responsável. (...)
A ação responsável é um processo de auto-exame consciente de si mesmo, propiciador do autoperdão. Inicia-se com a autoconsciência, na qual a pessoa irá observar-se para perceber os seus atos, classificando-os em acertos, quando estiverem em conformidade com a lei do amor, e erros, quando forem provenientes do desamor e pseudo-amor.
Ao se perceber em erro, ao invés de entrar no julgamento gerador de remorso ineficaz, proveniente da consciência de culpa ou na tentativa infrutífera de fugir dele, o indivíduo tem uma atitude responsável, não de auto-acusação, mas de perceber que foi ele que cometeu aquele ato e somente ele pode repará-lo.
Após assumir a responsabilidade, segue-se o arrependimento, pois o erro praticado, é um ato de desamor, portanto contrário às leis divinas e, então é necessário se arrepender de tê-lo cometido.
Após se arrepender, inicia uma auto-análise do erro, buscando examiná-lo, istó é, refletir sobre o motivo pelo qual cometeu aquela ação equivocada, o que o levou a agir com desamor, para poder aprender com o erro.
Percebamos, com isso, que o erro faz parte da didática divina, pois do contrário, Ele nos teria criado perfeitos para não errarmos. Se buscarmos sempre no erro cometido um aprendizado, estaremos evoluindo tanto com os acertos, quanto com os erros. No final, o que conta é a evolução do ser humano na busca da sua iluminação.
Após ter buscado aprender com o erro. é necessário iniciar ações de reparação. A ação responsável  diante da vida exige que reparemos o desamor, transformando tal atitude em atos de amor. (...)" 
Trecho extraído do  livro Jesus e Kardec, modelos para os trabalhadores do Movimento Espírita, escrito por Alírio de Cerqueira Filho, Santo André, SP, Editora Bezerra de Menezes, 2005, p. 140-143.

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Culpas e desculpas
Texto extraído do Momento Espírita, escrito pela Equipe de Redação do Momento Espírita.

"Você já refletiu sobre o que representa a culpa em nossas vidas?
Não há dúvida de que o sentimento de culpa é um dos grandes responsáveis por nossa infelicidade.
Quando fazemos algo que nos causa um desconforto íntimo pertinaz, é bem provável que seja a culpa se instalando.
Mas o que fazer para que esse sentimento não se aloje em nossa intimidade e nos traga fortes dissabores?
Parece lógico que a melhor atitude é a que elimina, em definitivo, esse desconforto de nossa alma.
E que atitude poderia ser mais eficaz do que um sincero pedido de desculpas?
Todavia, pedir desculpas significa admitir que nos equivocamos, e isso mexe diretamente com nosso orgulho.
O que geralmente fazemos, então?
Ficamos remoendo o desconforto e buscamos alguém a quem culpar pela atitude que nossa consciência desaprova.
Não seria mais coerente pedir perdão?
Logicamente seria, mas o orgulho muitas vezes nos impede.
O que fazemos, então?
Preferimos nos punir de outra maneira. E geralmente optamos pelas enfermidades...
A consciência nos acusa, mas em vez de resolver a questão com a humildade de um aprendiz, preferimos a autopunição velada.
Em vez de pedir perdão, optamos pelo sofrimento. Em vez de aliviar a alma admitindo que somos frágeis e nos equivocamos, preferimos nos esconder sob a máscara de uma perfeição da qual ainda estamos distantes.
Por não admitir as nossas próprias fraquezas, também não as admitimos nos outros, e agimos com um rigor desmedido, infelicitando-nos e infelicitando os que conosco convivem.
Mais sensato seria reconhecer que somos aprendizes da vida, e que todo aprendiz tem o direito de errar, mas tem também o dever de corrigir o passo e seguir em frente.
Como aprendizes da vida, não estamos isentos do erro, da queda, das fragilidades que caracterizam a nossa condição de alunos imperfeitos.
Assim sendo, vale a pena agir como quem deseja crescer, aprender, ser feliz. E para isso é preciso saber pedir perdão, saber perdoar, saber tolerar...
Só não admite erros a pessoa que se julga infalível, perfeita, acima do bem e do mal. E essa, certamente é uma pessoa infeliz.
Se quisermos aprender a ser mais leves e menos presunçosos, observemos as crianças. Elas não têm vergonha de pedir desculpas, não guardam mágoa nem rancor.
Quando se machucam, elas choram... Pedem socorro, reconhecem sua fragilidade...
Se não conseguem alcançar algo, pedem ajuda. Para entender as coisas, perguntam várias vezes.
Quando sentem medo, admitem. Pulam no colo mais próximo ou se enroscam no pescoço do amigo ou irmão mais velho.
Isso se chama humildade, isso se chama pureza. Isso se chama sabedoria.
É por isso que as crianças aprendem. Elas não têm vergonha de ser aprendizes da vida.

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O sentimento de culpa é um detrito moral que fustiga a alma. A pessoa que carrega esse fardo, sofre e não admite ser feliz.
Assim sendo, se você não tem a pretensão de ser infalível, perdoe-se, peça perdão, liberte-se desse lixo chamado culpa, e siga em frente."

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